Desde que as águas do Rio Madeira alcançaram níveis inéditos e cobriram cerca de oito pontos da rodovia BR-364 em Rondônia, caminhoneiros que vinham para o Acre começaram uma batalha contra a correnteza que impedia a passagem. Além da incerteza do caminho, a falta de comunicação com as famílias transformou os dias dessas pessoas em semanas.
Os 20 dias sem qualquer contato fizeram a jovem Michellem sofrer elo pai caminhoneiro, Vanderlei Filipóvitz, ambos de Mato Grosso. Após ver uma foto do motorista na água, logo o reconheceu, e um misto de sentimentos a envolveu.
“Era desespero e orgulho ao mesmo tempo. Ele sabia que a família, preocupada, esperava por notícias. Mesmo assim preferiu se arriscar”, diz Michellem, já tranquila após telefonema do pai ao chegar em solo acreano.
Vanderlei, como outros tantos condutores que esperam ao longo da BR, são personagens importantes para a vida dos acreanos. Entretanto, diante do momento de crise que a Amazônia vive com a cheia dos rios, nem sempre tiveram sua angústia considerada.
Mas a filha de Vanderlei, distante, não dispensa mérito para seu mito: “Pai, você é um herói!”, comenta a menina, ao ver a imagem que circulava na internet. “Ele trabalha em estradas de condições precárias, arriscando a vida dia e noite. Nessa situação, os caminhoneiros tomavam banho no Rio Madeira, podendo até prejudicar a saúde”, relata.
O risco ficou maior com um rio imponente sobre a rodovia que em muitos trechos perdeu todo seu pavimento. No momento da foto que fez a filha se emocionar com o destemor de seu pai, Vanderlei e os companheiros pularam na água após o cabo de uma das carretas se desprender.
Junto a homens do Corpo de Bombeiros e Deracre que fazem a passagem dos veículos sobre pranchões (carroceria de ferro), principalmente nos trechos em que a água chega a 1,40 metro sobre a estrada, os caminhoneiros refizeram as amarras que seguravam as cargas e seguiram viagem para abastecer o Acre.