“Devemos preservar o que existe para ter a oportunidade de conhecer, de aprender e de utilizar os recursos de que temos necessidade e zelar por eles”. O ensinamento é do artista e agente ambiental Juliano Augusto Souza, ou Juliano Espinhos, como gosta de ser chamado.
Juliano é uma figura que desperta curiosidade nas pessoas. Ele mora no meio da floresta, na região do antigo Seringal Empresa, onde hoje é a Área de Proteção Ambiental (APA) do Igarapé São Francisco, em Rio Branco. A casa em que ele vive está localizada no Ramal História Encantada, no quilômetro 35 da Estrada Transacreana e pertence ao grupo de teatro de rua e de floresta Vivarte. Lá o agente cultiva copaíba, ingá de macaco, patuá, bacaba, seringueira, cacau, açaí de touceira e biribá no viveiro que mantém com a ajuda da comunidade.
Há oito anos Juliano desempenha muito mais do que a função de agente ambiental, tornando-se um verdadeiro guardião da floresta, um parceiro do governo do Estado na implantação de políticas públicas de conscientização ecológica. Ele conheceu e conquistou a confiança de cada morador da região, inclusive dos grandes fazendeiros.
Quando chegou à comunidade e se tornou agente, Juliano enfrentou problemas como a questão da caça ilegal, invasões de lotes e o mais crítico de todos: as queimadas. Em 2010, os incêndios florestais derrubaram mais de dois mil hectares de terra, e nesse momento ele percebeu que somente o esforço do governo não salvaria aquela área. Foi aí que lhe surgiu o entendimento de que a sua missão naquele lugar era ajudar a comunidade a entender e enxergar a importância da floresta. “O pessoal daqui precisava se envolver, se conscientizar e ser parceiro do governo. Não ter medo. Ter confiança para receber ajuda”, relata.
Atualmente, a comunidade conta com a ajuda de cinco agentes ambientais. Os habitantes da região cuidam de dez mil hectares e, antes do verão, organizam o Projeto Brigada, com o objetivo de prevenir as queimadas. A Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema) apoia a iniciativa e oferece capacitação técnica para os moradores.
Economia florestal
O grupo, de agentes ambientais e também culturais coordenado por Juliano, desenvolve projetos que geram emprego e renda para os moradores. O Parada de Floresta, por exemplo, é uma apresentação musical que passa de casa em casa dando esclarecimentos sobre os prejuízos de derrubadas, incêndios florestais, caça e exploração de madeira ilegal. Dessa ação participam moradores que desenvolvem alguma atividade artística, como músicos e cantores. Já o projeto intitulado Trilhas organiza espaços dentro da floresta para apresentações culturais, recepcionando estudantes e visitantes em geral. Os carpinteiros e marceneiros da comunidade trabalham no preparo desses ambientes.
Os moradores também ajudam no estudo das plantas, do solo e da organização da floresta e recebem total apoio dos órgãos ambientais estaduais.
APA do Igarapé São Francisco
A APA do São Francisco foi criada por meio do decreto nº 12.310/2005. Trata-se de uma categoria de unidade de conservação (UC), que tem o objetivo de preservar e recuperar o igarapé. A área é administrada pela Sema, em parceria com o Instituto de Meio Ambiente do Acre (Imac) e com Batalhão de Polícia Ambiental.
Com a ajuda da comunidade, essas instituições operam para diminuir danos ambientais e coibir ações degradadoras, como explica o coordenador da APA, Ricardo Plácido. “O trabalho desenvolvido na APA tem como foco a preservação, educação e difusão ambiental. E para que tenhamos resultados positivos precisamos da colaboração da população”, disse.