Presente no estado desde os anos 40, a Rádio Difusora Acreana completou 71 anos nesta semana. Com características marcantes que só as ondas AM possuem, a Difusora mantém um público cativo até nos lugares mais distantes, por seu amplo poder de alcance. Ao longo desses anos, muitas histórias envolvem locutores e ouvintes – desde a servidora da recepção aos operadores de som, cada um tem a sua para contar.
A radialista Nilda Dantas comanda o programa Espaço do Povo. Com curiosidades, entrevistas e notícias, diariamente ela atende cada pedido de música enviado por cartas e telefonemas. Da área urbana aos seringais mais remotos, o “alô” de Nilda é esperado por ouvintes assíduos, que ela chama simpaticamente de “amigos”. Assim, nem a data de aniversário passa despercebida na agenda que ela carrega até hoje em todo o seu tempo à frente do programa: 15 anos.
Com propriedade, diz: “A Difusora para mim, e essa convivência diária, foi uma escola de vida. Aqui aprendi conceitos de ética e de responsabilidade. Tive descobertas que me levaram a partir para outras formações, elas me causaram a necessidade de me capacitar a cada dia porque eu sei que as pessoas que me escutam precisam do meu conhecimento”.
Assim como Nilda, a sonoplasta Toinha Oliveira tem um vínculo de longa data com a emissora. Segundo ela, o sonho de conhecer uma estação de rádio vinha da infância, e o hábito de ouvir a Difusora adquiriu com os avós. “Eu me tornei fã dos radialistas daqui de tanto acompanhá-los, junto com meus avós e meus pais. Até que em 1987 tive a oportunidade de fazer parte dessa equipe, que para mim é uma segunda família”, conta.
Do outro lado – o ouvinte
“O rádio sempre fez parte da minha vida, ainda mais porque sempre morei em área rural. Daí eu ficava imaginando como seria um estúdio, se a voz do locutor era do mesmo jeito pessoalmente”, afirma Raimundo Fernandes da Silva, antes de conhecer o estúdio da Difusora e falar com Nilda Dantas.
Morador da Reserva Chico Mendes, o ouvinte veio até Rio Branco e aproveitou para ir à rádio enviar uma mensagem para os moradores da comunidade. Segundo ele, é mais fácil mandar um recado e comunicar a todos de uma vez do que ir de casa em casa para informar sobre algum evento, pela distância que há entre uma família e outra.
“Fiquei muito feliz”, frisou depois de receber o convite para acompanhar a transmissão ao vivo, ao lado da radialista.
Correspondente Difusora
A hora das mensagens ainda é o momento mais aguardado por muitos ouvintes. Isso porque a Difusora recebe de 20 a 25 pessoas por dia para fazer o envio delas. As mensagens, na maioria das vezes, ainda são o único meio de comunicação entre as famílias. Por vezes inusitadas, engraçadas, outrora tristes, mas são sempre repassadas ao pé da letra pelo correspondente, entre as 13 e 14 horas.
Rubens Braga nasceu e se criou no Seringal Espalha. Em passagem pela capital para resolver assuntos, foi à Difusora para comunicar a todas as famílias de lá sobre uma reunião com pais de alunos que haverá nesta semana. “Todo mundo lá escuta. É tradição. Mandar o recado é certeza que todos vão ficar cientes”, disse.
Reginaldo Cordeiro é o responsável por ler a mensagem fidedigna deixada pelos usuários do serviço. “E tem que ser ao pé da letra mesmo. Se a gente disser a palavra ‘peça’ em vez de ‘dentadura’ numa mensagem, o ouvinte vem no outro dia e diz que dentadura não é peça, e não tem nada disso no recado”, conta, cheio de graça, o correspondente há 37 anos.
A coordenadora de Jornalismo da emissora, Melissa Jares, completa: “Tão gratificante quanto conviver entre essas pessoas feras da comunicação acreana é ver o quanto os ouvintes se sentem parte dessa história”.