Pedalar de Rio Branco a Cruzeiro do Sul, uma distância de mais de 600 quilômetros, parece muito, não é? Mas perceba o sorriso de Siwei Zhong. Ele chegou a Rio Branco na segunda-feira, 17. Veio da China, de bicicleta. Sim, da China! Siwei é um rapaz contido, formado em Turismo, que nunca havia saído de seu país, mas que sempre sonhou em viajar pelo mundo.
Aos 24 anos resolveu que só observar as fotos nos livros não era o suficiente. Ele sentia que devia realizar seu sonho. Depois de se programar e trabalhar mais dois anos para juntar uma quantia em dinheiro, pegou sua bike e #partiu.
E já são três anos longe da família. Sua casa agora é sua bicicleta durante o dia. Para dormir, leva junto à bagagem, uma pequena barraca para pernoitar em qualquer lugar, o que ajuda na economia, já que busca não gastar dinheiro, a não ser com vistos e alimentação.
Até agora Siwei já pedalou por 23 países, passando pela Ásia, África e América do Sul. E afirma: “Não importa pra mim quantos quilômetros ou países, mas quantas culturas diferentes. O mais importante de tudo são as pessoas que conheço e as amizades que faço por onde passo”.
As aventuras não se resumem apenas às paisagens encantadoras. Há também perigos. Zhong já passou fome, já foi assaltado no Egito – inclusive foi a primeira vez que sofreu um assalto. Já pedalou na noite africana ouvindo esturros de leões e hienas. No Chile, um ladrão com um ferro pontiagudo o furou oito vezes, e no Brasil, na Bahia, foi atacado por cachorros.
Porém, tudo isso o deixou mais forte: “Quando eu vivia lá na China, qualquer problema eu já ficava desesperado, queria fugir, mas hoje minha mente se expandiu, eu não fujo mais de nada. Eu quero é enfrentar”, afirma.
É com esse espírito que ele diz não aceitar carona na estrada, mesmo que esteja faltando o ar ou que suas pernas não possam mais pedalar. “Eu preciso passar por isso sozinho”, enfatiza. A família, na China, não aceita sua viagem por saber dos perigos. Contudo, essa aventura ainda deve durar pelo menos dois anos.
Siwei, que no Brasil adotou o nome de Silvio, disse que o país preferido dele é, sem dúvida nenhuma, o nosso. Diz que as pessoas são hospitaleiras no Sudão e no Chile, mas quando conheceu os brasileiros, ele dá um sorriso bem largo e responde: “Não tem comparação”.
Aqui, esteve em 19 estados. Passou pelo Sul, assistiu às Olimpíadas do Rio, conheceu as praias do Nordeste. “O Brasil é como se fosse um minimundo: muitas culturas e povos diferentes. Dependendo da região, há pessoas com traços europeus, orientais, africanos ou índios. Brasil é muito rico”
Onde chega aproveita para degustar todos os pratos regionais possíveis, como chimarrão, acarajé, tacacá, farofa, açaí puro, açaí com creme e até açaí com peixe, no Pará. Disse que gostou de todos, mas o churrasco o conquistou.
Siwei, ou Silvio, não tem muita pressa em voltar à China. Do Acre vai para o Peru e de lá segue para as Américas Central e do Norte. Em seguida, Europa e depois segue pedalando até voltar para a China.
Após realizar seu grande sonho, pretende contar sua saga em um livro. Até agora foram 54 mil quilômetros percorridos, e ao fim da jornada serão cerca de 100 mil. Alguma dúvida de que ele tenha muita história para contar?