“Se as pessoas soubessem da importância de doar órgãos, não haveria ninguém nas máquinas, sofrendo na fila por um transplante.” A frase foi dita no leito do Hospital das Clínicas por um dos pacientes que se recupera na enfermaria D de Transplantes, quatro dias após receber um novo rim.
José Maria da Silva Machado, de 40 anos, recebeu a notícia de que iria mudar sua vida. Era tarde de um domingo, 27 de agosto, quando o telefone tocou. Do outro lado da linha, a médica nefrologista Jarinne Nasserala – que o acompanha desde o início do tratamento de hemodiálise -, há cerca de dois anos, informava não apenas que havia a doação do órgão, mas que o centro cirúrgico e toda a equipe já estavam prontos aguardando sua chegada para iniciar o transplante.
“Quando ouvi a médica dizer que estava à minha procura desde o dia anterior, e que tudo estava pronto para fazer o transplante, o medo de passar por um procedimento cirúrgico tão complexo, só não foi maior do que a emoção de ouvir que receberia um novo órgão”, lembra Machado.
Além dele, outro paciente, Valbenir Xavier da Silva, de 54 anos – que também passou por um procedimento de transplante -, em menos de 24 horas, graças a um mesmo doador.
Emocionado, ele conta que estava em casa quando recebeu a notícia. Semelhantemente a Machado, a médica já o convocava para o centro cirúrgico. “Na hora a gente nem acredita. Perguntei para a médica se era sério, se ela tinha certeza. Ela riu e disse: ‘Já o estamos aguardando praticamente no centro cirúrgico’. Depois do nascimento dos meus filhos, essa foi a segunda melhor notícia da minha vida”, conta, emocionado.
Dividindo o mesmo leito no Hospital das Clínicas (HC), ambos se recuperam bem. A previsão médica é de que os pacientes transplantados tenham alta ao longo da próxima semana.
Transplantes no HC
O Acre já realizou mais de 600 transplantes de órgãos. No HC já são 304 procedimentos, além dos mais de 300 pacientes que receberam órgãos transplantados em outros estados via Tratamento Fora de Domicilio (TFD), por meio da Secretaria de Estado de Saúde (Sesacre).
“É um trabalho que envolve todo hospital, desde o pessoal da limpeza, a equipe médica, os auxiliares e a direção. Todos estão envolvidos, e o resultado é esse: garantir aos pacientes uma nova chance, com dignidade e qualidade de vida. A doação de órgãos vai muito mais além do que um gesto. Ela tem um alcance muito maior, seja na vida do paciente, da sua família ou mesmo da equipe que o acompanha”, diz Jarinne Nasserala.
A profissional é exemplo de que o sucesso da política de transplantes do Acre é resultado de um compromisso de governo, somado à dedicação e esforço de uma equipe que tem como missão salvar vidas.
Jarinne está no oitavo mês de gestação e, mesmo assim, faz questão de acompanhar pessoalmente os pacientes. “Eu fico muito feliz e emocionada quando temos a chance de mudar a realidade de quem aguardava na fila por um transplante. Por isso, faço questão de ligar, de dar a boa notícia”, afirma.