Seja para corrigir problemas visuais, para quem não quer ser visto usando óculos, ou apenas por estética a fim de dar um colorido no olhar, as lentes de contato quando não utilizadas de forma correta podem gerar graves consequências à saúde ocular. Em casos específicos, até a necessidade de transplante de córneas para pacientes que perderam a visão em decorrência de infecções pelo mau uso do acessório.
Práticas equivocadas e os descuidos com as lentes de contato, sejam elas corretivas ou cosméticas, podem até causar a perda do olho. O alerta é da Central de Transplantes do Acre, unidade da Secretaria de Estado de Saúde (Sesacre) que já realizou mais de 250 transplantes de córneas desde 2009, quando teve início o procedimento no Hospital das Clínicas (HC), em Rio Branco.
Cuidados
Na capital acreana, em 2013, um paciente que usava lentes de contato teve que passar por um transplante após dormir com o acessório e não conseguir removê-lo corretamente na manhã seguinte. Na época com 16 anos, Rodrigo Almeida chegou a viajar para São Paulo em busca de tratamento, mas só conseguiu reaver a visão após um transplante realizado no Acre.
A mãe do adolescente, Elizete Almeida, conta que quando o filho acordou pela manhã e tentou retirar as lentes, compradas em uma farmácia e sem passar por um oftalmologista, acabou lesionando a córnea, o que resultou em uma grave infecção.
“Ele comprou essa lente só para colorir os olhos em uma farmácia. Naquela época era fácil encontrar nesses locais. Ele usou uma vez e ficou com os olhos vermelhos. Levamos ao médico, que proibiu o uso. Então ele passou a usar escondido e sem nenhuma higienização correta. Certo dia esqueceu de tirar as lentes para dormir e elas praticamente grudaram nos olhos. Foi horrível”, lembra Elizete.
A importância da orientação médica
A médica oftalmologista Natália Moreno explica que o erro mais comum entre os usuários de lentes de contato é usar o acessório sem a avaliação de um médico. Segundo ela, apenas o profissional da área está habilitado para indicar a lente mais apropriada, de acordo com a necessidade de cada paciente.
“A orientação é sempre o acompanhamento médico, até porque só o oftalmologista poderá dizer, com base na avaliação, qual é o grau especifico e fornecer as orientações corretas ao paciente sobre o uso adequado das lentes e a higienização. Muitos, para economizar na parte médica, optam por comprar o acessório em óticas e internet, sem passar por um profissional, o que põe em risco a saúde ocular. O uso da lente é um ato médico, portanto, precisa de supervisão”, orienta.
Natália observa que o uso da lente não é proibido e que é uma boa opção em alguns casos, desde que seja feito com o acompanhamento de um oftalmologista e a supervisão dos pais, em caso de menores de idade, que muitas vezes tem indicação do acessório para praticar esportes. “A gente orienta, prescreve e passa muitas lentes, mas elas devem ser bem feitas e o uso, acompanhado por um profissional.”
Outros erros comuns, de acordo com a especialista, é não respeitar o prazo de descarte e usar as lentes por mais tempo que o recomendado, além da higienização correta do acessório e das mãos durante o manuseio.
“São situações de risco, que podem causar danos irreversíveis. O transplante ainda é uma salvação, sendo que algumas vezes a gente consegue reverter, outras não. Os problemas são vários, de infecções mais leves que a gente consegue contornar a casos mais graves, quando já tem a úlcera de córnea, que causa sequelas em quase 100% dos casos. Por isso é tão importante seguir os prazos de descarte e obedecer às orientações de uso e higienização”, atenta a médica.
Durante a adaptação das lentes de contato no consultório médico, o oftalmologista avalia previamente as condições de saúde ocular do paciente, testa a lente mais indicada para cada caso e faz várias orientações para uma boa adaptação, entre elas o tempo diário de uso, higienização, conservação, tempo de descarte, cuidado ao entrar em piscinas usando as lentes, uso de colírio lubrificante, sinais de irritação ocular e alergias que requerem retorno ao consultório para reavaliação.