“Ela era uma pessoa amável e caridosa e autorizar a doação de seus órgãos foi uma forma de eternizar seu amor”. A frase é de Jackson Kenned do Nascimento, que perdeu a irmã de forma brutal em 2016, assassinada pelo ex-marido que não aceitava o término do relacionamento.
Quando o luto se transforma em doação, histórias como a de Jackson transcendem a dor e reacendem a esperança para centenas de pessoas que aguardam na fila de transplante por um órgão compatível para salvar suas vidas. “Minha irmã não teve chances de se defender, mas garantiu uma segunda chance de vida para alguém, o que nos conforta”. Keyla Viviane do Nascimento foi assassinada em frente à loja que trabalhava em Rio Branco.
História semelhante é da técnica de laboratório Izaura Sampaio, que perdeu a filha em abril de 2016, vítima de um acidente de trânsito. A mãe conta que a família autorizou a doação em respeito a vontade da filha que indicou o desejo de ser doadora de órgãos em suas redes sociais.
“Nada do que aconteceu poderia trazer nossa Marina de volta. Quando falaram na doação de órgãos, respeitamos a vontade dela que relatou seu desejo nas redes sociais. Infelizmente, só foi possível a doação das córneas. Marina era intensa, cheia de vida e tinha muita bondade, especialmente em ajudar o próximo. A doação foi só mais um gesto do amor que minha Marina tinha em seu coração”, relata a mãe.
A estudante de jornalismo Marina de Oliveira, que chegou a ser símbolo de campanha educativa de trânsito no Acre, tinha 23 anos de idade. A jovem seguia para o trabalho por volta das 6 horas da manhã, quando foi surpreendida por um outro veículo que invadiu a contramão em alta velocidade e colidiu de frente contra seu carro.
Dizer SIM ainda é um obstáculo a ser vencido
Apesar de histórias emocionantes que superaram a dor da perda para salvar outras vidas, no Acre os índices de rejeição à doação ainda são grandes. Mais de 70% das famílias, quando consultadas, ainda dizem “não” à doação de órgãos. Para muitos especialistas, o grande empecilho gira em torno da falta de conhecimento de saber que a morte encefálica é uma situação de irreversibilidade absoluta.
“A morte na medicina é a morte do cérebro. Quando uma pessoa chegou a essa situação, existem dois caminhos: ou os órgãos desse corpo salvam várias vidas ou se enterra esse corpo e se deixa degradar dentro do caixão. São esses caminhos que existem. Portanto, a informação é importante para que as pessoas aceitem a morte encefálica como morte, e tomem essa decisão”. A declaração é do médico hepático Tércio Genzini, uma das maiores referências em transplantes de fígado do país.
O sim das famílias já beneficiou centenas de pacientes não só do Acre, mas de outras regiões do país que recorreram ao estado em busca do transplante de órgãos. Desde a criação da Central de Transplantes no Acre, há 11 anos, mais de 320 pessoas tiveram uma segunda chance de vida, além de outros 300 transplantes realizados fora do estado, via Tratamento Fora de Domicílio (TFD).
“O transplante é capaz de gerar um gesto de amor tão bonito em um momento de tanta dor como a morte. Por isso é algo tão incrível. A aposta do governador Tião Viana, anos atrás, transformou o Acre em referência no pais”, afirma Gemil de Abreu Júnior, Secretário Estadual de Saúde.
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