Funcionando desde o último mês de março, os colégios militares Dom Pedro II e Tiradentes representam uma nova forma de ensino escolar no Acre. Além de desenvolverem as práticas educacionais definidas pelo § 1º do artigo 1º da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, Lei nº 9.394/1996), as escolas também adotam ensinamentos disciplinares hierárquicos como nos quartéis.
Para oferecer aos mais de mil alunos matriculados na rede toda uma estrutura com saberes, práticas e experiências culturais, o governo investiu R$ 4,2 milhões na construção das duas unidades.
Para o vice-diretor e coordenador do corpo de alunos do Colégio Tiradentes, tenente Erivaldo Amaral, disciplina e educação são as duas prioridades dentro do novo modelo, que atende estudantes de 38 bairros da capital.
“Estamos trabalhando estes alunos a começar pelo civismo, o respeito ao próximo e toda a área de cidadania. E já percebemos uma melhora expressiva em muitas crianças. Até pais já chegaram até nós para contar que os filhos mudaram em casa e estão mais respeitosos”, conta o tenente.
Ainda segundo Amaral, foi visível observar os diferentes comportamentos, assim como detectar a mudança e o interesse de alunos, que hoje estão fazendo o diferencial dentro da escola.
“Recebemos uma mãe que nos contou que o filho nunca havia tirado um dez, e aqui conseguiu. Mas isso é porque todos estão focados na questão do ensino, pais, alunos, professores, gestores e administrativo”, declara o tenente, frisando que o papel do Colégio Militar dentro da sociedade é o de transformar por meio da educação.
“Aqui, trabalhamos junto com os pais, não tem aquilo de jogar o filho na escola e só aparecer no fim do ano. Somos uma parceria, é tanto que, quando fazemos reuniões é por turma, para agregarmos os pais, identificá-los e trabalharmos, por meio dessa identificação o filho”, afirma.
Ele salientou, inclusive, que as escolhas dos locais onde seriam construídas as escolas não foi um mero acaso. Isso porque onde existe uma escola militar, há a probabilidade de mudar a situação dos arredores da localidade.
“A tendência dos bairros onde os colégios estão situados é melhorar, pois onde estão os militares constantemente há viaturas fazendo ronda pela região, inclusive da guarnição do Bope. E isso faz com que a situação dos bairros mude gradativamente, inclusive a longo prazo, já que a sociedade irá perceber a mudança da geração de jovens que sairão da escola e farão a diferença por onde passarem”, explica.
Rotina
Nas escolas militares, os estudantes entram às 7h, fazem a formatura de hasteamento da bandeira, aprendem a cantar o hino nacional e acreano e fazem continência à bandeira. Após seguir aos primeiros procedimentos, eles entram para a sala de aula. Pelo menos uma vez por semana os alunos têm 50 minutos para aprender sobre questões militar, civil e patriotismo.
No Colégio Tiradentes, os alunos podem ter atividades extracurriculares como banda marcial, conjunto musical e coral. Além disso, já foram adquiridos equipamentos para jogos como xadrez.
As escolas, que trabalham com o ensino fundamental II (do 6º ao 9º ano), pretendem ainda incluir o ensino médio a partir de 2019 com os estudantes que sairão do último ano do ensino fundamental.
Gleiciane Nunes faz parte da equipe de coordenação que acompanha as duas escolas e fornece todo o suporte no que se refere ao âmbito pedagógico e curricular. Ela relata que a escola militar é sonho muito antigo da Polícia Militar, visto que, até o final do ano passado, todos os estados do país possuíam estas unidades, exceto o Acre.
“O convênio entre a Polícia Militar e o governo do Estado foi assinado entre 2011 e 2012. Foram seis anos de planejamento que separaram o projeto até sua efetiva concretização. A Secretaria de Obras trabalhou na concepção de escolas, com projeto arquitetônico que fosse aperfeiçoamento dos modelos que já eram implantados, com quadra de esportes no modelo oficial”, conta.
Nunes explica ainda que a equipe da Secretaria de Estado de Educação e Esporte (SEE), junto com representantes da PM e do CBM, fez visitas a instituições de outros estados, como Goiás e Ceará, na tentativa de compreender toda essa dinâmica do funcionamento das escolas, visto que a gestão é comandada por um oficial militar.
A filha da Teresinha Messias, Maria Clara, 11 anos, estava na lista de espera e foi contemplada recentemente para ingressar no Colégio Tiradentes. “Participei do processo seletivo, fiz a inscrição e ela não foi sorteada. Quando recebi a ligação dizendo que ela tinha ganhado a vaga, não pensei duas vezes e vim imediatamente. Acho importante que ela tenha um ensino na base da hierarquia”, disse.