Uma das principais cadeias produtivas do Acre, a mandiocultura é fonte de renda para mais de 12 mil famílias em todo o estado. Nesta semana, a regulamentação do açafrão na produção de uma das maiores tradições da culinária acreana trouxe de volta a esperança de prosperidade aos produtores rurais.
A medida foi anunciada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), após intermediação do governador Tião Viana, que com apoio da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) no Acre conseguiu mostrar que o açafrão nada mais é do que um complemento fundamental para a farinha de mandioca.
“Como nós produzimos várias farinhas com diferentes tipos de macaxeira, o uso do açafrão é muito importante porque reflete uma farinha toda igual. Assim, ela fica só um padrão. Fora do Acre, a farinha branca não é muito aceita. A farinha creme [amarela] que a gente produz tem uma melhor aceitação de mercado, e sem o uso do açafrão caiu o preço da farinha”, explica Ricardo Alexandre, produtor rural em Cruzeiro do Sul que, aos 28 anos, carrega a tradição familiar, mas também adquire a macaxeira de outros produtores quando necessário.
Para o chefe-geral da Embrapa Acre, Eufran Amaral, a produção da farinha de mandioca é a base da segurança alimentar e econômica das famílias.
“A mandioca é a cultura mais importante do Estado do Acre em termos de áreas, seguida do milho, e tem uma importância fundamental para a manutenção das condições sociais e econômicas das famílias, especialmente na região do Juruá, que tem cerca de 800 casas de farinha. Vale destacar que a produção da farinha é a base da segurança alimentar desses produtores, além da garantia de renda. Com a regulamentação do açafrão, elas podem continuar conduzindo suas atividades melhorando sua qualidade de vida através dessa produção”, destaca Amaral.
A pesquisadora da Embrapa Acre Virgínia Álvares esclarece que o açafrão já é uma especiaria amplamente utilizada em todo o mundo. No entanto, apesar de seu uso ser livre no Brasil e já utilizado tradicionalmente nas casas de farinha, não havia regulamentação específica para seu uso nesse processo.
“O uso do açafrão não estava autorizado para a farinha, por isso, havia a necessidade de fazer esse pedido de inclusão. Nesse meio tempo, diante do cenário econômico, o governador [Tião Viana] solicitou nota da Embrapa para auxiliar nessa negociação junto à Anvisa e no nosso estudo, comprovamos que a quantidade de açafrão utilizada continua dentro das normas do Ministério da Agricultura para a farinha”, esclarece Virgínia.
Ainda de acordo com a pesquisadora, em 2011 houve a atualização da legislação do Ministério da Agricultura que trata sobre a Padronização e Classificação da Farinha de Mandioca, “onde foi informado que poderia ser utilizado o corante natural, desde que tivesse regulamentado pela Anvisa”.
Sobretudo cerca de quatro meses atrás, a Anvisa endureceu a fiscalização, o que prejudicou a fabricação e, consequentemente, a venda do produto. “É importante frisar que esse corante é feito das raízes do açafrão da terra e produzido pelos próprios produtores”, finaliza a pesquisadora.
Evolução da cadeia produtiva
Considerado o melhor lugar para se plantar macaxeira no Brasil, segundo a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex), o Acre tem o maior rendimento agrícola por hectare na produção dessa cultura, por isso a regulamentação do uso do açafrão representa mais um avanço nessa cadeia produtiva.
Para o secretário de Extensão Agroflorestal e Produção Familiar, Thaumaturgo Neto “a continuidade do açafrão no processo da produção da farinha, além de acabar de vez com a dúvida sobre a utilização desse corante natural, resgata o modelo cultural de produzir farinha distinguindo a sua coloração natural no processo”.
A conquista é mais um resultado do esforço do governo do Estado, aliado aos produtores rurais, que se soma aos grandes investimentos no setor produtivo. Durante a gestão do governador Tião Viana, foi iniciado o processo de fortalecimento e expansão da cadeia produtiva da mandioca com a formalização do modelo de parceria Público-Privado-Comunitário Integrado (PPCI).
Com o apoio do estado na retomada da cadeia produtiva da mandioca, a produção da planta saiu de 10,4 milhões de toneladas em 2011 para 12,3 em 2017 – uma evolução de 18,27% –, o que tornou o Acre o segundo maior produtor dessa cultura da Região Norte, ficando atrás apenas do Pará, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Outra conquista imprescindível no processo de fortalecimento da mandiocultura é a conquista, em 2017, do Selo de Indicação Geográfica, uma estratégia de valorização de produtos regionais, resultado do empenho do governo do Estado e parceiros como a Embrapa e o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).