Eles não têm hora para almoçar, quase não dormem, e curtir uma sessão de cinema ou um evento em família é quase sempre uma missão impossível. Como um super-herói de quadrinhos, estão sempre alerta para quando o telefone tocar deixar tudo que estão fazendo e correr com seus jalecos brancos para socorrer uma vida. Assim é a profissão de quem escolhe ser médico, celebrada neste 18 de outubro.
Para alguns, ser médico pode ser um grande desafio. Já para outros, o desafio maior é não conseguir “aposentar o jaleco”. Assim é a vida do ginecologista obstétrico Paulo Favini, que de tão apaixonado pelo que faz passou a ser chamado pelos colegas de “Doutor Cegonho”, de tantos bebês que já ajudou a trazer ao mundo.
“Já perdi as contas de quantos bebês já tive a honra de trazer ao mundo. Números não me recordo, mas lembro de cada parto, todos especiais na minha vida. Às vezes, o ‘Doutor Cegonho’ vira ‘Doutor Cebola’, com os olhos cheios de lágrimas no centro cirúrgico por fazer parte desse milagre da vida”, conta Favini, ginecologista/obstétrico da Maternidade Bárbara Heliodora.
Para atuar na profissão, além de preparo acadêmico, é necessário também empatia, cumplicidade, respeito e cuidado. Qualidades que o obstetra descobriu ter antes mesmo de cursar a faculdade de Medicina. Formado em 2002, foi o único da família que escolheu a profissão.
“Quem escolhe cursar medicina vai abrir mão de muitas coisas para se dedicar exclusivamente à profissão. Sempre cultivei esse desejo em meu coração. Lembro-me que ainda muito jovem uma pessoa muita religiosa me disse que através das minhas mãos muitas vidas viriam ao mundo, que não desistisse desse sonho. E não desisti. Hoje estou aqui, 16 anos exercendo a profissão que tanto amo”, destaca Favini.
Começo e fim
Alguns profissionais escolhem atuar no “começo da vida”, como é o caso do médico Paulo Favini, responsável em cuidar em todos os sentidos da gestação e nascimento do bebê. Já outros, se especializam em fazer com que o final dessa jornada chamada vida aconteça da melhor forma possível, como é o caso dos profissionais que atuam diretamente com pacientes oncológicos, que, em muitos casos, não têm mais na medicina nenhuma possibilidade de tratamento para combater a doença, que não seja paliativo.
“Nossa função é preservar a dignidade humana acima de tudo. Mesmo que não tenha tratamento para o câncer, sempre haverá tratamento para o indivíduo. O suporte clínico, que chamamos de medida de conforto é para garantir que o paciente nesse estágio da doença não sinta dor, não tenha sede, falta de ar, nem que seja isolado da família. São cuidados, sobretudo, na garantia de dignidade humana. O foco não é mais a doença, e sim a pessoa”, declara o médico oncologista, Antonio Vendette.
Há quase vinte anos atuando na medicina, o oncologista lembra dos momentos difíceis que já teve que encarar na profissão. “O oncologista é um para-raios de desgraça, cai tudo em cima da sua cabeça. Chega um momento que você vai ficando esgotado, sem forças para seguir adiante quando um paciente que você lutou, acompanhou meses ou anos vem a óbito. Infelizmente, chega um momento que a doença fica mais forte. A pessoa não morre em um dia, morre aos poucos e você vai acompanhando esse processo, se envolvendo, fazendo parte daquela vida, criando laços com a família”, desabafa.
Entretanto, Vendette destaca a força e o incentivo que vêm dos próprios pacientes frente ao quadro irreversível do câncer. “Muitos pacientes são mais fortes do que a gente imagina. Eles que me dão forças e estímulos. Ao mesmo tempo que você se entristece com seu trabalho, você é gratificado quando percebe que mesmo com as circunstâncias da doença, consegue melhorar as condições de vida daquele paciente, ajudando-o durante esse processo difícil”, diz o médico.
Segundo o especialista, uma queixa comum entre pacientes em estágio avançado de câncer é a culpa. “Diante da morte vêm as reflexões sobre os valores da vida, das perdas de tempo com coisas pequenas. Muita gente carrega arrependimentos por ter cometido erros ou não ter feito as melhores escolhas em vida. O grande segredo é viver o momento presente da melhor forma possível. Assim, o passado só trará boas lembranças e o futuro não despertará medos. Deixando de lado pequenas intrigas, liberando perdão, e valorizando o que de bom já tenha sido conquistado”, aconselha Vendette.
Não por menos, que a frase proferida há milhares de anos pelo filósofo grego Hipócrates, considerado o pai da medicina, cabe até hoje à essência dessa profissão: “Curar quando possível, aliviar quando necessário, consolar sempre”. Ser médico, sobretudo, é estar próximo e oferecer conforto, seja no início da vida ou ao final dessa jornada.
Valorização e respeito profissional
Ao longo dos últimos anos, o governo do Acre tem valorizado a classe médica no estado com a contratação de novos profissionais que atendem em 40 unidades de saúde em todo o Estado.
Desde 2011, o governo estadual contratou 405 novos médicos de 39 especialidades diferentes, que vão desde clínico geral até médico nuclear.
Para se ter uma ideia do investimento que é a contratação desses profissionais, mensalmente, o pagamento de salários, apenas dos pouco mais de 400 admitidos, representa um impacto financeiro de cerca de R$ 4 milhões.
“São números que comprovam o compromisso dessa gestão com a melhoria da qualidade da saúde do Acre. São ações que vão além da construção e recuperação de unidades de saúde, mas também na contratação de profissionais que todos os dias têm como desafio salvar vidas em nossos hospitais”, destaca Rui Arruda, Secretário Estadual de Saúde.
No total, o Acre tem mais de 700 médicos contratados pela Secretaria Estadual de Saúde que prestam atendimento à população nas unidades de saúde espalhadas por todo o estado.