No Centro de Reservação Central de Rio Branco, o trabalho da Divisão de Manutenção Hidráulica começa cedo. Antes das 7 horas da manhã, a equipe de combate a vazamentos já está reunida para planejar as ações do dia.
Quando há um rompimento na rede, a vazão no reservatório baixa, e o problema é logo identificado. Mas as reclamações de desperdício de água tratada por causa de vazamentos na rede de distribuição chegam a todo instante por meio da Central de Atendimento (0800 717 7711), ou via redes sociais, ou mesmo ao telefone de cada trabalhador do Depasa. Na tela da TV, a queixa do cidadão também acontece com frequência.
Com paciência e bom humor, o coordenador da Divisão de Manutenção Hidráulica do Depasa, Carlos Gardel Souza, acolhe todas as demandas e logo trata de motivar a equipe para solucionar os problemas no menor tempo possível: “O combate a vazamentos é uma das prioridades do Depasa; nosso trabalho é combater o desperdício na área externa, na via pública. E nós agradecemos ao usuário por todos os dias nos informar, avisando ao Depasa os pontos onde há dificuldades”.
Ciente da responsabilidade de mitigar as perdas na rede e garantir que a água tratada chegue à casa dos usuários, a cada dia de trabalho a equipe de combate a vazamentos segue com boa disposição, e com sorriso no rosto, e nem mesmo trabalhar sob o sol escaldante a desanima.
Nesta reportagem, conheça o trabalho dos abnegados trabalhadores do Depasa, que todos os dias empenham tempo e força para corrigir problemas visíveis e invisíveis que podem comprometer o bom funcionamento do sistema de distribuição de água da capital.
A rotina começa por definir prioridades
Manhã de sexta-feira, mais um dia de trabalho começando. As ordens de serviço são distribuídas e, junto com a equipe, Carlos Gardel define as prioridades.
“As demandas são atendidas conforme a gravidade. O volume de água desperdiçada é uma das prioridades a ser cuidada, e nossos trabalhadores não medem esforço em prestar o melhor serviço”, enfatiza.
Realizada a primeira análise das solicitações a serem atendidas, é a hora em que o avaliador técnico entra em cena. Antes de deslocar homens e todo o maquinário, a moto vai primeiro para avaliar o tamanho do problema e a urgência da intervenção.
“A cada ocorrência, a gente coleta informações precisas, verifica se a situação confere com as informações que chegaram ao Depasa e analisa a situação para identificar a gravidade e informar o que vai precisar para resolver o problema”, explica Josenildo Alves, um dos avaliadores da equipe de combate a vazamentos do Depasa.
No dia em que a equipe da reportagem acompanhou os trabalhadores, um dos chamados informava sobre vazamento na rede distribuição do bairro Cabreúva, na Regional Sobral, uma das mais populosas de Rio Branco. Em campo, o avaliador técnico do dia identificou que se tratava de vazamento em uma ligação domiciliar. Situação comum, que a equipe escalada para resolver problemas de baixa complexidade pôde resolver no mesmo dia.
Próximo dali, na Rua Chandless, no bairro Portal Amazônia, outra ordem de serviço de manutenção da rede de água também foi atendida. Era mais um vazamento em ligação domiciliar, problema que também foi resolvido rapidamente, no mesmo dia.
Experiência faz a diferença
Mas garantir o pleno funcionamento de um sistema tão complexo nem sempre é algo fácil. Com uma extensão de 1,149 mil quilômetros de extensão, a rede de distribuição de água de Rio Branco é formada por adutoras principais, que ligam o ponto de tratamento aos reservatórios, e dali partem as redes de distribuição. Alguns trechos estão sob o solo há mais de 40 anos.
Dias antes, do outro lado da cidade, a missão foi eliminar vazamento na rede de 400 mm que leva água tratada até o bairro Santo Afonso, no Segundo Distrito. O problema foi detectado por um dos encanadores, que mora na região.
“Aqui o caso é grave, o vazamento já provocou um buraco no asfalto”, afirmou o encanador José Jovino, ao identificar o problema na rede do Santo Afonso. Segundo ele, na hora de avaliar uma situação e tomar decisões, a experiência faz toda a diferença: “Essa rede do Segundo Distrito a gente já conhece bem. Sabemos até os pontos onde mais quebra”.
Para corrigir o vazamento na rede do Santo Afonso, foi necessário escavar. A equipe utilizou caçamba, caminhões carga seca e máquina retroescavadeira. Jovino lembra que, em algumas situações, o trabalho requer atenção redobrada: “A escavação é um trabalho que exige cuidado, desbarrancamentos podem provocar lesões graves em órgãos, como baço e fígado, é preciso ter cuidado”.
O vazamento de grande proporção acabou prejudicando o abastecimento de alguns bairros da região. Mas, ao final de mais um dia de trabalho árduo, a missão foi concluída com êxito, e todos puderam retornar pra casa com o sentimento de dever cumprido.
Trabalho que é vida
Em relação à grande maioria dos serviços essenciais, cujos trabalhadores atuam em setores que precisam funcionar 24 horas, como os profissionais do Depasa, trabalho é vida. Emilson Nunes entrou para o saneamento como operador de reservatório, ainda no ano de 1998. Segundo ele, quem trabalha na área está sempre com olhar atento a uma rede de água, cano estourado, ou seja, “respira saneamento” 24 horas por dia.
“A gente acaba se envolvendo diretamente nisso, quando vê, mesmo fora do trabalho, se vê uma situação, já identifica, chega no trabalho e informa o problema” explica Emilson.
No saneamento há mais de 20 anos, o encarregado de uma das equipes de combate a vazamentos, Francisco Lima, conhecido entre os amigos pelo apelido carinhoso de “Bigode”, nunca se imaginou fazendo outra coisa. “O que eu gosto de fazer é isso aqui, eu adoro. Só vou sair quando me aposentar”, declara, animado.
Para ele, trabalhar sob sol ou chuva não é problema: “Fico mais orientando, né, contando aqui com o apoio dos mais novos, mas gosto do trabalho na rua, a gente conversa, brinca, trabalha e se diverte”.
Elas no saneamento
E, para quem pensa que que combate a vazamento é atividade apenas para homens, a presença da motorista Antônia Fadul é uma boa surpresa.
“Cheguei aqui em um momento difícil. Entrei para a equipe e fui muito bem recebida, sempre tive o respeito dos meus colegas. Costumo de dizer que esta é minha família, passo mais tempo com eles do que na minha casa”, relata ela, que entrou para o saneamento logo após o falecimento do marido, ainda de luto, e no trabalho encontrou forças para superar a perda.
Responsável pela condução das equipes e alguns insumos, Antônia é a primeira a chegar e a última que sair. “Às 5h30 já estou na rua para fazer a condução e fico até entregar o último trabalhador. Gosto muito do meu trabalho, amo o que faço, e sou grata a Deus por isso”, conta.
A presidente do Depasa, Waleska Bezerra, reconhece o valor e a dedicação de cada trabalhador: “São eles que estão lá, na linha de frente, no sol, às vezes até na chuva, para garantir que os serviços do Depasa cheguem aos nossos usuários. Não tenho nenhum receio em dizer que o maior patrimônio do Depasa são os trabalhadores”.
E, pensando no bem-estar desses profissionais, a gestão Gladson Cameli tem intensificado as ações para melhorias de estrutura e valorização do servidor. “Os projetos contemplaram melhorias nas ETAs [estações de tratamento de água] de Rio Branco, Assis Brasil e Brasileia. Reformamos também a oficina que atende as unidades do interior. Em breve, vamos entregar também melhorias na ETA de Acrelândia. E os cuidados se estendem à aquisição de novos equipamentos”, destaca a presidente.
Combate ao desperdício
O Brasil é um dos países com maior índice de desperdício do mundo. Quase 40% de toda água captada e tratada é perdida. A intermitência no sistema é uma das causas de rompimento de rede. “Quando a rede seca e depois se coloca em carga novamente, ela tende a quebrar. E, nesse período de seca, o consumo é maior, e ela seca mais rápido ainda. A cada intervenção de manobra, será necessário encher toda a rede para começar a distribuir. Esse enchimento vai gerar ar, formando bolhas e isso tende a quebrar a rede”, explica o diretor de Operações do Depasa, Alan Ferraz.
Com o objetivo de evitar essas rupturas de rede, atualmente, o Depasa trabalha para reduzir a quantidade de manobras, deixar a rede em carga o maior tempo possível. Outra medida é a reestruturação das equipes, tentando manter o maior número de pessoas possível para diminuir o tempo de resposta e evitar grandes perdas de água tratada. “Quando há uma quebra, a água se perde e a rede acaba despressurizando também, então estamos trabalhando para dar uma resposta no menor tempo possível”, enfatiza Ferraz.
A intermitência na distribuição é um dos fatores que contribui para o rompimento de rede.