O que Israel da Silva Souza, Rayla da Silva Vidal e Emanuela da Silva Queiroz têm em comum além do sobrenome? A resposta é simples: o amor que eles têm pelo magistério, pelo ensinar, pela docência, pelo aprender a cada dia que é preciso ter uma pitada de carinho pelo o que fazem.
Seja na zona rural, seja no ensino regular, no ensino especial, eles fizeram do ser professor mais do que um ofício, mas um projeto de vida. As dificuldades e desafios nunca os fizeram desistir. Mais do que ensinar, ser pai, ser mãe, ser médico e ser psicólogo é parte da labuta diária.
A pandemia os afastou da sala de aula, mas não do amor que sentem pelos alunos. Transmitir o melhor conteúdo, explicar cada lição faz parte de um trabalho que os recompensam, que os fazem deitar no travesseiro e perceber que valeu a pena todo o esforço, toda a dedicação.
Mais do que professores, eles são realizadores de sonhos, sejam os próprios, sejam os dos alunos. Em comum eles têm a motivação que os fazem continuar, e acreditar na educação como ponto de partida para a construção de um mundo melhor, mais humano e mais digno.
Três histórias que se confundem e se entrelaçam e cujas histórias de vida poderiam muito bem ser a história de qualquer professor, de qualquer educador, de qualquer um que escolheu o magistério como profissão e tem no sorriso de cada aluno o seu pagamento, a sua recompensa.
Sonho de infância
Ser professor era um sonho de infância de Israel da Silva Souza. Lotado na Escola Bom Jesus, localizada no km 140 da Estrada Transacreana, ele teve o pai como inspiração. “Desde criança carreguei comigo esse sonho de trabalhar com educação e este ano pude realizar”.
Ele tem motivos para comemorar. Estudou no programa Asas da Florestania e teve como um dos professores o próprio pai e a família, nesse sentido, teve grande influência em sua escolha profissional. “Desde pequeno eu via meu pai trabalhando, andava com ele, então tirou aquilo para mim, aquele desejo, aquela vontade de ensinar”.
Mas como começou a lecionar somente este ano por meio de um contrato temporário como professor da zona rural, Israel tem enfrentado grandes desafios, a maioria deles tem como pano de fundo a pandemia que assolou o mundo desde o ano passado. “As aulas remotas na zona rural são um pouco mais complicadas”, afirma.
Outro desafio enfrentado por ele diz questão à distância. Morador do km 70 da Transacreana, ele precisa percorrer pelo menos outros 70 km para chegar à escola. O desafio da distância também chega aos alunos.
Mesmo há pouco tempo na profissão, Israel nem pensa em ter outro oficio. “É um sonho que carrego desde a infância, então nem chega a passar pela minha cabeça mudar de profissão, eu sempre quis ser professor e espero transmitir meu conhecimento a todos aqueles que também têm um sonho”.
Além do próprio pai, os professores do ensino fundamental também foram fundamentais para que a sua escolha e para ele realizasse o sonho do magistério. Por isso, como mensagem ele diz para não parar de sonhar, sempre buscar os meios para alcançar aquilo que se quer.
“Nunca pare de sonhar, tem que lutar. Se você tem um sonho, busque realizar, busque os meios, porque você pode até dar muitas voltas, mas você tem que ter foco naquilo que você quer e não desistir, porque vale a pena ser professor”, faz questão de dizer o professor Israel.
Fazer o que gosta
“Faça aquilo que você pode fazer nas condições que você tem hoje”. É esta frase do professor Mário Sérgio Cortella que motiva a professora Rayla da Silva Vidal, atualmente lotada na Escola Santa Lúcia II, localizada na Estrada do Quixadá, ramal do Limoeiro.
Antes de chegar à escola ela passou pela Escola Floresta, no projeto de Assentamento Moreno Maia, onde ficou por quatro anos e também pela escola Bom Jardim. Trabalhar na zona rural, aliás, é parte do amor que ela tem pelo ensinar. “Se me perguntar você quer trabalhar na zona urbana ou na zona rural e vou responder: nunca fiz concurso para a cidade”.
As melhores experiências ela teve e tem na zona rural. Relatos de amor às crianças não faltam, quando, do próprio bolso comprou shorts para um aluno que só possuía uma única peça de roupa e esta havia rasgado na escola. “Eu dou o meu melhor porque eles também dão o seu melhor”.
Mas ela também enfrenta os desafios que a educação na zona rural impõe. “Meu maior desafio hoje é entregar o melhor conteúdo, é transmitir o melhor conteúdo, é você entregar o seu melhor porque você tem a garantia de deitar no travesseiro e dizer ‘eu hoje cumpri com a minha missão’”.
Ficar longe da família também foi outro grande desafio enfrentado pela professora Rayla, mas um desafio compensador. “O respeito e o amor que eu tenho por eles e eles por mim é muito grande, pois eu vejo o sorriso de cada um, não faltam, então eu entendo que estou dando o meu melhor”, afirma.
Pela profissão, sempre teve o apoio incondicional da família. Formada em ciências da natureza, sempre procurou seguir os conselhos do pai. “Quando fui fazer faculdade ele disse ‘faça o que você gosta, o que você ama e dê o seu melhor. Se é isso que você quer, ser professora, então vai, não faça pelo dinheiro’”.
Mas nem tudo foram flores para a professora Rayla. Antes de concretizar o sonho de ser professora, ela teve que trabalhar para pagar a faculdade, teve que ser operadora de caixa. “Trabalhava, mas a minha vontade sempre foi ser professora, era estar onde me encontro agora”, disse.
Como sugestão aos futuros professores ela diz que é preciso pensar que existem várias vidas que dependem do professor. “Tem vários sonhos que dependem de você, então você tem que levar a sua semente, que é o conhecimento, para aquelas crianças”.
O pai não queria
Mas nem todos tiveram o apoio da família na hora de escolher a profissão. Foi o caso da professora Emanuela da Silva Queiroz, que atualmente leciona na escola de ensino especial Dom Bosco e na Escola Padre Carlos Casavecchia, localizada no bairro Xavier Maia.
Na época em que fez vestibular, tentou entrar para o curso de enfermagem. Ficou em 31º lugar, para um curso de 30 vagas. Acontece que todos realizaram a matrícula e a sua pontuação permitia que ela cursasse química. Foi o que fez.
“Meu pai não queria de forma alguma que eu fosse professora, inclusive falou que eu ia sofrer muito, ele não queria que eu seguisse essa carreira”.
A persistência da professora Emanuela valeu a pena. Em 2012, quando tinha acabado de se formar, começou a lecionar na zona rural, no ramal Linha Nova, no município do Bujari. Começou a trabalhar no programa Asas da Florestania. “Aprendi muito porque tinha acabado de sair da faculdade”.
Na sequência, ela foi trabalhar no ensino regular, na escola Clícia Gadelha, na região do São Francisco e, um ano depois, começou a trabalhar no programa de aceleração do ensino médio, o PEM. Trabalhou na prefeitura e, em 2017, foi trabalhar no ensino integral, na Escola Glória Perez.
Depois, foi para a escola Dom Bosco, onde diz estar “amando”. “O que eu amo aqui no Dom Bosco é esse ensino mais individualizado porque a quantidade de aluno é menor e eu consigo efetivamente desenvolver um plano de aula para cada aluno, além de ter uma interação maior com as famílias”.
Por isso, no dia do professor, tudo o que ela mais quer é que o profissional seja mais valorizado e que sociedade muda a sua visão em relação ao professor. “Nós que trabalhamos todos os dias estamos plantando o futuro da nação, por isso eu acho necessária uma outra visão porque ensinar é muito importante para mim, ver a evolução dos alunos é muito prazeroso”.
Para quem quer ser professor, ela avisa que vai encontrar muitas barreiras. “Então, que ela se arme de ferramentas para enfrentar as barreiras da desvalorização, porque são horas de trabalho, principalmente em casa. Aqui é apenas a execução do que se planeja em casa, o professor não tem final de semana, então ele precisa ser muito forte”, avisa.