Valorizando a história dos ribeirinhos do estado do Acre, a peça “Fiandeiro de Tempos” tem sua estreia marcada para o dia 7 de dezembro, a partir das 19h30 na Usina de Arte João Donato, em Rio Branco. A entrada é gratuita; porém, por motivos da pandemia, a restrição de público e o uso de máscaras são obrigatórios.
O trabalho é idealizado pelo ator Victor Onofre, com direção geral e roteiro de Quilrio Farias, e codireção de Dino Camilo. As histórias são fruto das vivências de Victor, que costumava acompanhar a mãe em viagens a comunidades ribeirinhas em todo o estado. Por lá, ouvia histórias das pessoas e presenciava costumes do dia-a-dia das populações.
“Por causa do trabalho relacionado ao meio ambiente, minha mãe sempre fazia viagens pelas comunidades ribeirinhas no Vale do Juruá e eu, sempre que tinha oportunidade, ia junto com ela. Então eu conheci inúmeras pessoas, inúmeros fiandeiros que, inclusive, estão presentes dentro do espetáculo”, conta.
“Fiandeiro” é escrita em formato de monólogo, e marca o retorno de Victor aos palcos após 10 anos. E esse é um desafio que irá trilhar sozinho, por enquanto. Mas a ideia é, no futuro, trazer outros atores que se interessem por essa proposta.
Oriundo de Cruzeiro do Sul e ator há 26 anos, Victor já participou de diversos grupos teatrais como a Companhia Experimento de Artes Cênicas na Trupe SouRiso (que leva palhaços para visitarem hospitais), a Companhia Garatuja e o Grupo Aguadeiro.
Com o Aguadeiro teve o primeiro contato com o instrumento intitulado “Espanta Cão”, que está resgatando para o espetáculo. De acordo com o Instituto Nova Era, trata-se de um instrumento musical oriundo do Acre, com base revestida de borracha e formato de cruz.
“Eu resgato esse instrumento e a memória do povo ribeirinho, e também divulgo um pouco desse patrimônio imaterial, que é a memória desse povo. Às vezes a gente acha que eles são tão sofridos, mas eles também podem ser muito alegres, muito vivos”, enfatiza.
A valorização é um ponto muito importante para Victor, que reforça como é necessário valorizar, defender e desenvolver novos processos para contribuir com a arte acreana.
“É preciso dar valor às pessoas aqui de dentro e ao resgate de memória do Acre, do verdadeiro Acre, que é um tanto quanto marginalizado. Às vezes existe um estereótipo de como é o ribeirinho, mas se você não vai lá conviver com eles, você não vai saber como é a realidade”, afirma.
Victor também conta uma história de suas viagens pelos rios com a mãe: “Eu tinha 6 anos de idade e fomos de batelão até uma comunidade. Daí dormimos na casa de um ribeirinho e tinha um jamaxi, de onde saíam “piados” bem fininhos. Eu, curioso, fui lá abrir e vi um ninho de periquitos que foram resgatados, porque a árvore tinha caído e matado os pais. Eu fiquei encantado, queria um! A dona falou que trocava por qualquer coisa que eu tivesse, então fui ao barco e peguei um pacote de bolachas para trocar pelo periquito. Cuidei até que ele ficasse grandinho e ele voou, ganhou a liberdade dele”.
O espetáculo “Fiandeiro de Tempos” tem apresentações marcadas para o período entre 7 a 11 de dezembro, a partir das 19h30, na Usina de Arte João Donato. A duração é de 50 minutos. O uso de máscaras é obrigatório. A garantia de um lugar para assistir ao espetáculo será por ordem de chegada. A peça foi financiada pelo governo do Estado do Acre, por meio da Lei Aldir Blanc, gerida pela Fundação de Cultura Elias Mansour.