O artista acreano Daniel Scarcello deu início neste sábado, 27, à nova temporada de apresentações do solo teatral Cabo de Guerra. Com apoio do governo do Estado, que incluiu a peça na programação oficial da Campanha Janeiro Branco, o solo estará em cartaz neste domingo, 28, em duas sessões às 16h e 19h; na terça-feira, 30, às 10h e 16h e na quarta-feira, 31, às 15h e 18h, no Teatro de Arena do Sesc-Centro.
A partir deste ano, a campanha Janeiro Branco se tornou oficial em todo o país. Portanto, além da apresentação para o público geral, Cabo de Guerra também terá seis sessões, dessa vez com ingresso gratuito, que pretendem contemplar cerca de 600 pessoas. Trata-se do projeto Cabo de Guerra – Janeiro Branco, aprovado no Edital do Fundo Estadual de Cultura (Funcultura) e conta com o apoio Institucional do governo do Estado do Acre.
“A intenção dessa ação social é a democratização do acesso à cultura e ao teatro. Hoje, migrantes e pessoas em penas alternativas acessaram um espetáculo onde puderam compreender a importância de cuidar da saúde mental, de se expressar e de que tudo que sentem é válido e de suma importância. Isto também é assistência em saúde”, ponderou o chefe do Núcleo de Populações Prioritárias e Vulneráveis da Sesacre, Nakágima Sanllay.
A parceria também foi exaltada pelo artista que destacou: “A parceria com a Sesacre foi muito importante porque a gente pôde oportunizar essas apresentações para pessoas que normalmente não iriam, não vão ao teatro, não têm acesso e que também muitas vezes são afetadas pelas questões que a gente traz na peça. Então com essa parceria, foi uma forma importante de ajudar a gente a concretizar o que o projeto se propõe, que é fazer essas apresentações para esses públicos”, disse Daniel Scarcello.
A juíza de Direito Andréa Brito, titular da Vara de Execuções de Penas e Medidas Alternativas da Comarca de Rio Branco, também esteve presente na primeira apresentação e ressaltou a importância da ação.
“Quero também parabenizar a Sesacre, a Central Integrada de Alternativas Penais. Hoje a Política Nacional do Judiciário tem buscado trabalhar a atenção às pessoas mais vulneráveis, em destaque aqui pessoas em situação de rua, imigrantes, LGBTQIA+. E, nessa perspectiva, está entre suas principais preocupações a não criminalização das pessoas por estarem em contexto de exclusão econômica. Então, enquanto Poder Judiciário, não podemos aprofundar essas distâncias e estigmas, e o evento de hoje ele tem mostrado que pode inserir pessoas em vulnerabilidades acrescidas no espaço de cultura, de lazer e de cuidado”, ressaltou a juíza.
Conforme a sinopse da obra, em Cabo de Guerra, o público irá acompanhar o jovem Lucas que, em seu quarto, luta contra dores físicas que despertam medo, angústia e ansiedade. Entre choro, raiva e desespero ele compartilha depoimentos de outras pessoas que passaram por situações semelhantes ou piores. Ao relatar seu processo, expurgar seu medo e encontrar sua luz, Lucas nos faz refletir sobre nós mesmos e sobre como lidamos com nossos conflitos internos e externos.
“Estamos muito felizes de retomar o espetáculo, ainda mais neste período significante para a pauta. Durante a primeira temporada tivemos um retorno muito positivo e estou muito feliz de poder contar novamente essa história que aborda uma questão tão necessária e atual, que é a saúde mental”, comenta Scarcello.
O projeto utilizou os dados do Índice Instituto Cactus-Atlas de Saúde Mental (iCASM) de 2023 para identificar as pessoas mais afetadas por questões de saúde mental no país e, assim, recortar o público alvo do projeto: pessoas com baixa renda (em busca de emprego), mulheres, jovens e pessoas LGBTQIAPN+. Ainda foram inseridas pessoas surdas e a população indígena.
A linguagem simples, direta e acessível ao grande público, fez com que até mesmo a venezuelana Yomedi Maria, de 49 anos, que não fala português e está abrigada há um mês no Acre, compreendesse os temas abordados. Isso porque, segundo suas próprias palavras, ela se identificou com muitas das questões relatadas como a ansiedade.
“Eu sofro dos mesmos sintomas que ele relatou há muito tempo. A depressão, a ansiedade, a raiva, tudo. Gostei muito dessa forma de falar [teatro] sobre o tema porque ele explicou como acontece tudo, os sintomas e tudo mais”, conta a venezuelana.
Para mobilizar o público específico, o projeto conta com a parceria do Departamento de Humanização do Estado do Acre e do Núcleo de Populações Prioritárias e Vulneráveis por meio da Secretaria de Saúde-(Sesacre); Central Única das Favelas (CUFA); Casa Rosa Mulher; Movimento Jovens do Futuro /Comitê Chico Mendes; Núcleo de Estudos, Extensão e Pesquisa Psicossocial Euclides Fernandes Távora (NEPSE); Grupo Arte de Ser; Centro de Apoio ao Surdo (CAS), Associação dos Surdos do Acre; Juventude do Povo Huni Kuin de Rio Branco, por meio da FEPHAC, além do apoio do Sesc Acre e da Usina de Arte João Donato.
Ingressos
Cabo de Guerra estreou em abril de 2022, em Rio Branco, por meio da Lei Aldir Blanc 2021 e foi destaque no Dia Mundial da Criatividade (2022), no Acre. O texto tem como base a experiência pessoal do ator, aliado a depoimentos colhidos de pessoas de todo o país durante o processo de pesquisa, e com referencial teórico apoiado em nomes como Carl Jung, Thich Nhat Hanh, Christian Dunker e Rumi.
As apresentações gratuitas serão realizadas no Teatro de Arena do Sesc e seguidas por debates com profissionais da psicologia, que são: Jorgenilce Alves, João Auricélio, Rodrigo Gomes, Sandra Ortiz e Leandro Rosa.
O trabalho é fruto da união de artistas acreanos de diferentes gerações. Com ideia, texto e atuação de Daniel Scarcello, a montagem conta com a direção de Clarisse Baptista, coreografias de Felipe Barbosa, trilha sonora original de Jorge Anzol e iluminação de Luís Rabicó.
Os ingressos custam R$20 (entrada inteira) e R$10 (meia entrada) e podem ser adquiridos antecipadamente por meio do contato 68 999617599.