A ayahuasca é uma bebida sacramental de uso milenar. Resulta do cozimento de duas plantas originárias da Floresta Amazônica: o cipó jagube ou mariri (Banisteriopsis caapi) e as folhas da rainha ou chacrona (Psychotria viridis).
Em torno dela, diversas tradições espirituais se estabeleceram entre povos indígenas do Brasil, Peru, Bolívia, Colômbia e Equador. Atualmente, 16 etnias do Acre utilizam a ayahuasca, que também recebe muitos outros nomes, como caapi, yagé, huní, nixi-pãe e kamarãpi.
Entre os não indígenas, o maranhense Raimundo Irineu Serra fundou, no início do século passado, em Rio Branco, a doutrina do Daime. Mais tarde, outro maranhense, seu amigo e seguidor, Daniel Pereira de Mattos, fundou o Centro Espírita e Culto de Orações Casa de Jesus Fonte de Luz, na mesma capital, de onde se originaram também as Barquinhas. Em Rondônia, no início da década de 60, o baiano José Gabriel da Costa fundava a União do Vegetal (UDV).
A ayahuasca é um chá medicinal psicoativo (ou seja, com atuação sobre o psiquismo), que promove a expansão da consciência humana. Seu uso ritual é protegido pela lei brasileira e é comprovadamente inofensivo à saúde.
A substância tem sido estudada por diversas áreas do conhecimento formal, como antropologia, psiquiatria, psicologia, química, botânica e medicina e a observação de seus efeitos antidepressivos têm chamado a atenção de pesquisadores do mundo todo.
Desse modo, esses estudiosos têm voltado seus olhares para uma região que é berço da cultura ayahuasqueira: o Acre. Daí a realização da II Conferência Mundial da Ayahuasca em Rio Branco, de 17 a 22 de outubro.
Na capital acreana, o Conselho Municipal de Políticas Culturais abriga, desde 2008, a Câmara Temática da Ayahuasca, que reúne regularmente seguidores de várias linhagens em torno de pautas comuns.
Além disso, o Estado do Acre concedeu, em 2010, o título de Cidadão Acreano a cada um dos fundadores das três linhagens tradicionais: Mestre Irineu, Mestre Daniel e Mestre Gabriel, constituindo um passo importante no reconhecimento oficial da contribuição desses cidadãos e de suas comunidades à cultura amazônica e à promoção humana.
Onides Bonaccorsi Queiroz é jornalista, escritora e ayahuasqueira desde 1996.