“Nem sei se ainda terei uma casa para morar quando sair daqui, porque pode ser que a água tenha levado tudo”, disse Remívia da Silva, uma entre milhares de pessoas atingidas pela enchente do Rio Acre, na capital. Além de ver sua casa totalmente inundada, essa foi a primeira vez em que viu seu único filho também perder tudo na alagação. “Tudo não, todos os bens materiais, porque ficou a vida, e enquanto existe vida, há esperança”, frisa.
Mesmo diante da adversidade, Remívia tenta se adaptar ao máximo à nova rotina que precisa ter enquanto fica alguns dias abrigada no Parque de Exposições Marechal Castelo Branco. No ano passado, a água levou sua TV, e desde então, não quis mais comprar outra por já ter perdido tanto de seus pertences.
Sem o aparelho, ela mesma procura outras formas para ver passar o tempo. “Faço a limpeza do meu boxe, troco o lençol do meu colchão, me sento na cadeira de balanço, às vezes dou uma volta pela frente do Parque, e na maioria das vezes passo tempo lendo. Ler a Bíblia me dá mais força e tranquilidade, porque a gente precisa acreditar que tudo isso um dia passa”, completa.
Quem também tenta seguir com a vida da forma o mais natural possível é Kátia Mendes, que continuou cuidando da filha da vizinha durante o dia enquanto ela precisa trabalhar: “Minha vizinha, que também está aqui, continuou indo para o trabalho dela normalmente, e eu cuidando da filha dela. Aqui não falta nada, e temos assistência em tudo de que precisamos, sejam leite, fralda ou qualquer outra coisa”, salienta.
A mãe da pequena Yasmin, Ana Lídia Lopes, conta que a filha, de um ano e nove meses, não estranhou muito o local. “De frente para a TV, ela se sente como se estivesse em casa”, conta.
Há ainda quem aproveite o lar temporário para cuidar da beleza. Maria Mota mora com a mãe no bairro Tropical e todos os anos fica abrigada no Parque. Para ela, o mais importante é estarem juntas, o resto se consegue tudo de novo. “Não tenho por que me desesperar, estou com minha mãe e ela é tudo o que importa na minha vida. Tem gente que reclama do lugar, da comida, de tudo. Eu não. Isso tudo passa. A gente tem é que agradecer por ter um lugar para ficar”, afirmou Maria, enquanto recebia um trato no visual feito pela equipe de voluntários do Senac.