“Eu não dormi nem jantei, ansioso…”, anuncia Adalberto Gomes. “Pegamos a chave do banco ontem e eu não ia esperar nada”, completa, rindo de si mesmo. Sua família é a primeira a se mudar para a Cidade do Povo. Desde as quatro da manhã, a mulher, Raimunda Aguiar, havia preparado o café e os sete filhos levantaram cedo para iniciar a mudança. Trabalho concluído, pagou o frete e a viagem tinha destino à Casa 7, quadra E.
Adalberto, os cinco filhos e a cachorra “Peludinha” foram no caminhão da mudança. Raimunda e o filho caçula, João Pedro, de ônibus. “Foi muito rápido. O ônibus passa de dez em dez minutos. Num instante chegamos”, conta Raimunda. E são os filhos os mais animados: “Acho que vai ser legal que só, porque vai ter várias coisas, muita gente, e vamos morar numa casa nova”, explica um dos filhos, Francisco Aguiar.
“Acabou-se o tempo de sofrimento”, exulta. A mudança tem um gosto de vitória, devido às muitas lutas que a família passou. Descarregando seus pertences, eles mostravam as marcas de água no colchão dos pais. Os meninos estão só com o colchão, porque as camas de solteiro foram perdidas na última alagação, mesmo destino da máquina de lavar, dois armários, um rack e outros itens pessoais.
Adalberto lembra ter ficado desabrigado quatro vezes: “Eu nunca vou esquecer o que passei! Essa alagação foi a pior, perdi quase tudo”. O Rio Acre chegou a atingir 16,40 metros em Rio Branco. Eles moravam no bairro Cidade Nova e, apesar de ver que as ruas estavam alagando, tinham a esperança de que o rio iria vazar. “Só que, de um dia para o outro, a chuva aumentou e os móveis foram sendo consumidos. Os bombeiros ajudaram, e fomos para o Parque de Exposições”, conta.
Do abrigo foram para uma casa alugada no bairro Taquari, porque a casa no Cidade Nova desmoronou. Pagavam R$ 250 de aluguel. “Nas alagações, sempre dois ou três ficavam adoentados – eram gripe, febre, virose, tudo muito difícil”, lembra. Mas neste ano, a filha Maria Aguiar estava grávida, então a dificuldade se uniu à preocupação, e essa foi mais uma barreira que todos precisavam superar.
“Ali vai ser uma escola?”, pergunta o filho para a mãe. A alegria se renova em cada novidade da nova casa. Da janela da propriedade, é possível ver a obra de uma das três escolas que estão sendo construídas na Cidade do Povo. Adalberto é vendedor ambulante, o único que trabalha na família – vende doces, chicletes e bombons. Argumenta sobre como vai ser bom trabalhar perto de casa, e já faz planos para o futuro. “Se Deus quiser, vamos continuar tirando nosso sustento, e vai ser tudo mais tranquilo.”
E é com orgulho do novo endereço que eles continuam organizando os pertences, passando uma vassoura na casa, guardando as roupas. “Daqui só para o cemitério. Essa casa não vai se acabar, porque é de alvenaria”, afirma o patriarca. Agora, a casa é mais do que um benefício governamental – é o lar da família Gomes.