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Os estados da Amazônia continuam enfrentando um desafio nos tempos atuais: oferecer dignidade aos cidadãos que chegam à zona urbana das cidades. Desde 2014, o Acre realiza um amplo projeto de saneamento básico nos municípios de Santa Rosa do Purus, Marechal Thaumaturgo, Porto Walter e Jordão. Nessas regiões, o único meio de transporte para grandes cargas sãos os rios de curvas sinuosas, mais bem percorridos por cavalos, em tempos de estiagem.
Saindo de Tarauacá, distante mais de 180 quilômetros, são sete dias de viagem pelo Rio Tarauacá, levando insumos para obras de saneamento integrado, em que a canoa encalha quase sempre, carregada com no máximo duas toneladas de ferro e outros materiais. Mas a recompensa são os sorrisos dos moradores do Jordão, ao abrir a torneira e receber água tratada e ao atravessar as ruas pavimentadas, providas de rede de drenagem e esgotos.
“A gente sem água não faz nada. Agora a hora que a gente quiser, tem água na torneira”, diz a lavadeira Sheila do Nascimento. Nascida no Seringal d’Oro, no Rio Tarauacá, zona rural do Jordão, sempre foi acostumada com o trabalho pesado, abrindo roçado ou limpando a estrada de seringa para o pai. Mas, com 12 filhos para criar, sofreu grande abalo ao perder o marido por uma picada de cobra e ter que sair da colônia onde vivia para tentar novas oportunidades na cidade.
Assim como Sheila, outros tantos moradores saíram das colônias, seringais e aldeias para a cidade do Jordão. Segundo o Censo do IBGE, em 2000 a população urbana local era de 19%, passando para 34% em 2010, com tendência de aumento. Em 2015, a estimativa de população é de mais de sete mil pessoas. O desafio está posto: acolher moradores que não estavam habituados com as peculiaridades da cidade, como a distância de suas casas para fonte de água e os canos, tubos e canais para dar caminho adequado aos resíduos domiciliares.
Esse é o cenário para a execução das obras do Programa de Saneamento Ambiental e Inclusão Socioeconômica do Acre (Proser), desde 2014 conduzido pelo Departamento Estadual de Pavimentação e Saneamento (Depasa) e Secretaria de Estado de Planejamento (Seplan). O programa vai investir cerca R$ 100 milhões em distribuição de água, coleta e tratamento de esgoto, pavimentação, drenagem, coleta e destinação de lixo nesses quatro municípios de difícil acesso, com recursos do Banco Mundial e governo do Estado.
Água é para todos
“Com um vaso d’água nas costas, dava uns 10 minutos lá do rio aqui para casa”, conta Sheila, enquanto a filha pede um copo d’água, agora totalmente potável, direto da torneira. Desde 2015, o Depasa, em parceria com a prefeitura, realiza distribuição de água para 100% da área urbana de Jordão diariamente, sem interrupções, enquanto houver energia elétrica.
Antes, o município produzia apenas 10 litros por segundo, o que não era suficiente para abastecer com eficiência. Com potencial para os próximos 20 anos, a nova estação de tratamento (ETA) distribui agora 30 litros por segundo, de água tratada primeiramente com sulfato, passando por um filtro de carvão ativado e finalizado com aplicação de cloro. “A situação da água não era boa. Muitas vezes, carregávamos água do rio. Era a manhã inteira trazendo no balde para poder lavar roupa, beber e tomar banho”, recorda Sheila.
Em um local onde o galão de água de 20 litros pode chegar a R$ 18, devido ao frete pelo rio, é de real significado ter água saudável e totalmente propícia para o consumo direto da torneira, com testes na própria cidade e também em Rio Branco. “Nós íamos buscar água em uma cacimba, lá na pista de pouso, com carrinho de mão. Todo mundo ficava feliz quando chegava o inverno para encher as caixas d’água nas bicas [queda d’água da chuva]”, conta o gestor ambiental Artur Samosa.
A pequena filha de Artur, os 12 filhos de Sheila e todas as crianças que brincam dia e noite nas ruas do Jordão são os motivos mais importantes na luta pelo saneamento básico. Segundo a Organização Mundial de Saúde, “juntos, a água não limpa e as más condições de saneamento constituem a segunda maior causa de mortalidade infantil no mundo”.
Com a canoa cheia
Uma das etapas da modernização do saneamento da cidade, a obra da nova ETA é exemplo das dificuldades que existem para qualquer operação naquela região. No início de 2015, foram mais de dez dias de viagem desde a cidade de Tarauacá, pelo rio de mesmo nome, carregando os tanques de decantação e tratamento, além dos demais insumos, como cimento, seixos e ferro, que foram enviados ao município em quatro barcos.
Mesmo com o transporte de insumos como cimento e brita no período de cheia do rio, a todo vapor, alguns produtos não conseguiram chegar a tempo para as obras a serem realizadas nas próximas etapas. Neste mês de julho, 15 toneladas de ferro estão em Tarauacá a caminho do Jordão, em embarcações que podem levar no máximo duas toneladas por vez. Os tijolos estão sendo produzidos na própria cidade.
“No período de cheia do rio, transportamos até 50 toneladas em balsas. Alguns insumos que não pudemos estocar no inverno, estamos trazendo agora em embarcações pequenas. Esse transporte custa cerca de três vezes mais do que o transporte com a balsa”, explica José Siqueira, engenheiro civil da empresa responsável pela execução das obras.
As quase 12 horas diárias do motor do barco ligado, com atenção para os infinitos galhos e árvores debaixo d’água, além do perigo de tombar em um banco de areia quase imperceptível durante todos os dias do percurso, tanto tornam o frete perigoso quanto elevam o seu custo.
“Viemos em seis canoas, juntos. Pouco antes de chegar por aqui tivemos que arrastar os barcos. Quando um encalhava, nós nos ajudávamos e seguíamos viagem”, conta o barqueiro José Mendes, ao chegar ao porto, dia 30 de julho, com o comboio que trazia também outras mercadorias para o comércio da cidade.
No dia seguinte, Mendes já partiria para Tarauacá, em uma viagem de três dias para buscar a outra carga de ferro. E será assim até que as 15 toneladas cheguem por completo. No caminho, ele passou por duas balsas encalhadas, uma com postes para o programa Luz Para Todos, outra já vazia após ter sua carga de cimento levada para a cidade. Além de existir ainda três embarcações de médio porte com um gerador de energia cada uma.
Os quilômetros de vias
Mesmo com o itinerário tortuoso, as obras seguem seu fluxo. “Já fizemos um pouco mais de 1,5 km de pavimentação. Concluímos toda a rede de drenagem, que tem mais de 3 km. Já fizemos mais de 2 km de esgoto e temos a meta de, neste ano, fazer mais 3 km”, informa Siqueira.
Como ficou comum de se ouvir desde que o programa de saneamento Ruas do Povo começou no Acre, o cabeleireiro Duda Neves conta o que fazia para ir para a aula na época da lama: “A gente amarrava a sacola no pé e seguia, porque era lama, lama mesmo”. Hoje, Jordão conta com um grande programa de modernização da cidade em execução, além de já ter recebido mais de 10km entre pavimentação e calçadas pelo Ruas do Povo desde 2011.
“Jordão será um dos poucos municípios do Brasil em que a comunidade urbana terá acesso a esgotamento sanitário, drenagem de águas fluviais, água tratada em tempo integral e pavimentação de todas as vias urbanas. Também contará com moderno aterro sanitário e coleta seletiva do lixo, tudo isto dentro do Proser”, afirma Edvaldo Magalhães, diretor-presidente do Depasa.
“Essa rua aqui nem existia, era só o caminho. Era só ‘a jurubeba’, mata por todo canto aí. Depois foram abrindo a rua, mas aí era lama feia mesmo. Quando chovia não podia nem sair de casa”, relata Neves, ao apontar para a Rua Assuero Sales, recém-beneficiada. Ele afirma também que isso mudou seu trabalho: “Melhorou muito o acesso para meus clientes, antes era a maior dificuldade para chegar até aqui. Hoje evoluiu muito e meu trabalho aumentou”.
Vila que passou a cidade apenas em 1992, Jordão por anos foi conhecida por ter apenas uma rua e um dos piores índices de Desenvolvimento Humano (IDH) do Brasil. Agora moderniza-se, agregando à qualidade de vida da floresta os avanços de uma cidade digna para seus moradores. Água, saneamento e pavimentação são apenas o começo de grande melhoria para o povo filho de seringueiros e indígenas que são parte da cultura acreana.
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