Nesta quinta-feira, 23, o Acre registrou 227 casos de contaminação por coronavírus; dez pessoas já morreram por causa da doença no estado
Levantamento da Secretaria de Estado de Saúde do Acre (Sesacre) mostra que até a primeira quinzena de abril os acreanos só responderam aos apelos de permanecer em casa quando leram uma informação trágica ou quando acreditaram que algo iria impactar diretamente na sua segurança. Mas essa preocupação foi momentânea, já que dois ou três dias depois de momentos de lucidez sobre a realidade da pandemia, as pessoas voltaram a relaxar, voltando ao convívio social normal em tempo de anormalidades de contaminação por coronavírus.
A análise tem como base os dados do ‘Covid-19 Community Mobility Reports’, relatório de movimentação de pessoas do Google, produzido com informação de celulares que tiveram a função ‘localizador’ acionada entre os dias 29 de fevereiro e 11 de abril no estado.
Nesses dias, o pico de pessoas em supermercados e farmácias foi em 22 de março, um domingo, cinco dias após o anúncio dos primeiros três casos confirmados oficialmente de contaminação por coronavírus no Acre, no dia 17 de março.
Movidos por uma fake news que dava conta de que todos os supermercados e drogarias iriam fechar, centenas de milhares deixaram as suas casas para correr às compras, numa tentativa desnecessária de montar estoques de alimento em casa. Passado o desmentido, com a Sesacre tendo distribuído notas informativas nas redes sociais e nos aplicativos de celulares – e gestores concedendo entrevistas –, a população voltou a se acalmar.
No entanto, saíram da quarentena em suas casas mais uma vez, apontam os gráficos, até o dia 6, quando foi anunciada a primeira morte por Covid-19 no Acre, a de uma idosa de 79 anos. Foi aí que entre 8 e 10 de abril, movidos possivelmente, ainda pela impressão do primeiro óbito, aconteceu um pico, dessa vez favorável, de isolamento domiciliar.
Mas como num efeito sanfona, as pessoas relaxaram novamente no dia 11 de abril, um sábado véspera do Domingo de Páscoa. Neste dia, muitos tornaram a sair de casa, talvez, para comprar ovos de chocolate ou para confraternizações com amigos. O Covid-19 Community Mobility Reports ainda não divulgou a movimentação dos dias subsequentes.
Para Glória Nascimento, chefe do Departamento de Vigilância em Saúde (DVS), da Sesacre, o momento não é de brincadeira, e é preciso que as pessoas continuem atentas. “Acredito que já está na hora de as pessoas pararem de brincar com o risco. Já deu para perceber que o momento é de extremo cuidado. Que é preciso se proteger para não se contaminar, para não passar para ninguém e nem morrer também”, afirma Nascimento.
Nesta quinta-feira, 23, o estado registrou mais 13 casos de contaminação por coronavírus, tendo o número oficial de contaminados passado para 227 pessoas. As informações são do Centro de Infectologia Charles Mérieux, repassadas ao DVS. Dez pessoas já morreram de Covid-19 no Acre.
Índice de quarentena é um dos menores do país, com apenas 10%
O relatório de movimentação de pessoas do Google também indica que o Acre é um dos estados que menos respeita o isolamento domiciliar. Enquanto na Bahia, por exemplo, o índice de recolhimento domiciliar é de 17%, o Acre só registra 10%.
A informação é endossada pelo Mapa do Índice de Isolamento Social, desenvolvido pelo Instituto Inloco para auxiliar no combate à pandemia da Covid-19 no Brasil. O mapa mostra o percentual da população que está respeitando a recomendação de isolamento.
No último levantamento do Inloco, na terça-feira, 21 de abril, o Acre figurava com 55,8% da população respeitando as regras de isolamento, mas novamente, abaixo do Amazonas, que hoje tem 58,4% de seus moradores recolhidos.
“O mapa do coronavírus existe para auxiliar as autoridades a direcionarem os recursos de segurança pública, comunicação e saúde”, propõe o Inloco.