“A alimentação não é apenas um direito humano, é o primeiro dos direitos”, afirmou o deputado federal Patrus Ananias (PT-MG), na tarde desta sexta, 17, no teatro da Universidade Federal do Acre (Ufac). O tema de sua palestra foi “Geografia da Fome 70 anos depois”, sobre a obra clássica do médico, cientista social e ativista pernambucano Josué de Castro (1908-1973).
Quando “Geografia da Fome” foi lançada, em 1946, antecipava alguns dos conteúdos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, adotada pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1948.
No Brasil, o estudo encontrou resistência por parte da comunidade científica, que frequentemente atribuía a fome ao excesso populacional e ao clima. O trabalho de Castro ajudou a derrubar esses mitos, apontando a necessidade de se estabelecer novas políticas de distribuição alimentar e a implantação da reforma agrária. A concentração da riqueza, o modo de organizar a produção, a agricultura familiar, a agroecologia e o cooperativismo também foram contemplados em sua pesquisa.
Afirmações como “existem dois terços de pessoas que não dormem porque sentem fome, e um terço de pessoas que não dormem por medo dos que sentem fome” ou “os ingredientes da paz são o pão e o amor” estão presentes ao longo da extensa e respeitada obra de Josué de Castro. “Geografia da Fome”, que se tornou um clássico da ciência brasileira, foi traduzido em 25 idiomas.
Castro foi embaixador brasileiro na ONU e indicado ao Nobel da Paz quatro vezes, nas décadas de 50 e 60. Com o Golpe de 1964, foi destituído do cargo de embaixador-chefe em Genebra e seus direitos políticos foram suspensos pela ditadura militar. Morreu em Paris, com saudades do Brasil.
Relatório da ONU sobre a fome
O relatório “O Estado da Insegurança Alimentar no Mundo” de 2015, divulgado pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), afirma que o Brasil reduziu em 82,1% o número pessoas subalimentadas no período de 2002 a 2014. A queda é a maior registrada entre as seis nações mais populosas do mundo, e também é superior à média da América Latina, que foi de 43,1%.
O palestrante
Patrus Ananias é advogado e professor. Foi o ministro do Desenvolvimento Agrário do Brasil durante o segundo mandato de Dilma Rousseff (2015-2016), ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome no governo Lula (2004-2010) e prefeito de Belo Horizonte (1993-1996).
Veio à capital acreana a convite do gabinete do deputado federal Raimundo Angelim, com apoio da Prefeitura de Rio Branco, Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social (Seds) e Secretaria de Estado de Justiça e Direitos Humanos (Sejudh).