Percorrendo sete municípios ao longo da BR-364, mais de 100 ciclistas realizaram a aventura inédita de pedalar de Rio Branco a Cruzeiro do Sul, na corrida Race Across Acre. Foram 24 horas de pura concentração para atletas, técnicos e pessoal de apoio que saíram na sexta-feira, 27, de frente do Palácio Rio Branco, e chegaram na manhã do sábado na Avenida Mâncio Lima, na capital do Juruá.
Foi uma oportunidade para conhecer um pouco mais da estrada que tem mudado a história do estado, belezas naturais e parte dos municípios, além de provar que um novo tempo da BR-364 chegou. Há menos de 10 anos a aventura na rodovia não era esportiva, era contra o isolamento de pessoas e toda uma região do estado.
A corrida e a superação
Quem pode contar parte do atual desafio é Maikon Silva, estudante de direito, ciclista desde os 10 anos de idade. Pedalar é um prazer pra esse menino de 20 anos, um dos destaques da equipe Leblon, vencedora da competição. “A alegria da vitória supera qualquer dor”, comenta o atleta que treina diariamente em torno de 100 quilômetros.
Sobre a prova, Maikon comemora um feito inédito para a região: “No Norte nunca tivemos uma competição desse nível”. Mesmo com tanto esforço, o jovem ainda teve tempo de apreciar o que pôde ver. “Quando a gente para e percebe onda está, aproveita ainda mais a viagem”, relata.
O ciclismo acreano tem bons frutos, como Ekleilson Marques, técnico da equipe Leblon. O atleta tem 35 anos e atualmente mora na Espanha, onde compete há dois anos. Ciclista experiente, são 25 anos nos pedais, Ekleilson comenta sobre os convites de amigos para ir de Rio Branco a Cruzeiro do Sul de bicicleta em outros anos: “Nunca me atrevi a fazer uma viagem assim, tão aventureira”.
Mas depois de participar da competição, mesmo que como técnico, reconhece a possibilidade de que, com alguma mudanças na forma, a Race Across Acre entre para o calendário nacional do ciclismo. “A estrada está bem. Achei bem organizada a prova, gostei muito. Foi uma competição com um modelo particular, mas que deu certo”, diz.
Para ele a beleza da viagem só apareceu na volta, confessa, quando não havia mais a tensão da prova: “Vi paisagens lindas, terrenos montanhosos, que são muito bons pra competir”.
Sentimento que Ekleilson compartilha com Elissandro Valente, triatleta da equipe Bombeiros Iroman, 5ª colocada. “Em alguns momentos a gente consegue ver como nossa terra é linda”, comenta, ofegante, Elissandro.
Mesmo com pouco fôlego, quando perguntado se faria o percurso novamente, não hesita. “Então vamos voltar agora pra Rio Branco pedalando”, rindo recupera o ar e finaliza comentando uma das dificuldades da prova: “Só achei ruim as ladeiras, é só subida e não tem decida. A gente vem desde Rio Branco subindo”.
Passando rápido na bicicleta, os atletas não tiveram como ouvir Luciano de Matos, morador de Tarauacá, se espantar ao saber de onde vinham aquelas pessoas: “Acho que é doidice o cara fazer isso!”. Mas sua amiga, Alcilene Souza, que mora há seis anos ao longo da BR nem pisca para dizer: “Eu teria coragem de fazer algo assim”. Não é para menos, moradores como Alcilene realizavam aventuras mais perigosas, eram dias, na lama, para ir ao município mais próximo para realizarem as tarefas do cotidiano isolado.