Há 15 anos, o piscicultor Luiz Benício de Melo se prepara para oferecer ao mercado acreano um pescado de boa qualidade. Atualmente, ele tem três propriedades com dez tanques de piscicultura, em Rio Branco. Cada um deles tem capacidade de oferecer quatro toneladas de peixe durante a semana santa, mas o produtor relata que nem sempre foi assim.
“Antigamente, se não conseguíssemos vender todo o peixe, éramos obrigados, pelas circunstâncias, a passar o excedente para o atravessador, que nos levava o pescado por um preço bem abaixo do mercado. De certa forma, acabávamos no prejuízo”, conta.
Segundo Melo, essa realidade era enfrentada por todos os produtores da região, em especial os da estrada do Quixadá, local em que ficam suas propriedades. Foi com a criação do Complexo de Piscicultura Peixes da Amazônia que os produtores puderam melhorar e aumentar a produção.
“O governo apoiou muito o pequeno produtor, mas a gente precisava resolver o problema da venda do nosso produto. Hoje em dia, com o Peixes da Amazônia, temos um peixe de qualidade, e isso começa com o alevino que vem de lá, com a ração que a gente compra de lá. Além disso, tem a assistência técnica e todo apoio. O resultado é positivo. A gente vende bem, e o complexo compra o que sobra”, explica.
A melhoria na produção ficou tão conhecida que, logo nas primeiras horas do dia, Melo recebe seus primeiros clientes. Além de abastecer as feiras de peixes e o complexo de piscicultura, ele também recebe encomendas em sua propriedade.
“Quando a gente conhece a procedência do produto, é mais tranquilo em relação ao consumo. Nos dias de hoje, é necessário primar pela qualidade do alimento”, ressalta o advogado Jorge Carlos Maia, um dos primeiros clientes do dia.
Semana Santa
Na rotina dos piscicultores, a Semana Santa sempre foi o período mais esperado do ano. Com os investimentos realizados na cadeia produtiva do peixe, a realidade de hoje é outra. Os produtores estão preparados para abastecer o mercado durante todo o ano. Durante o feriado da Semana Santa, eles têm condição de aumentar a produção, sem correr risco de prejuízo.
Neste período, somente para a rede de Supermercados Araújo, no Acre, o complexo vendeu cerca de 30 toneladas de tambaqui, pintado e pirarucu. As lojas da marca Pão de Açúcar, em São Paulo, encomendaram 130 toneladas das espécies processadas no complexo. Além disso, contratantes de Brasília, Florianópolis (SC) e algumas cidades do Nordeste também vão incrementar a oferta de pescado com peixes do Acre.
O Complexo de Piscicultura Peixes da Amazônia funciona no arranjo público-privado-comunitário. Uma grande aposta do governo do Estado, que apoia a cadeia produtiva da piscicultura, incentiva o setor empresarial a investir na indústria e garante a comercialização do pescado aos produtores.
Em sua estrutura, o empreendimento conta com um centro de produção de alevinos, frigorífico de processamentos e fábrica de ração. A capacidade de produção do complexo é de 70 toneladas de peixe por dia.
O governo do Estado apoiou a abertura e a manutenção de mais de cinco mil tanques em todo o Acre para o abastecimento do mercado local e do complexo, que, por meio da Central de Cooperativa Acre Peixes, conta com 2.400 piscicultores associados.
Para o presidente da Agência de Negócios do Acre (Anac), Inácio Moreira, o modelo público-privado-comunitário é o grande responsável pelo sucesso da indústria da piscicultura no Acre. “Essa parceria, dentro da cadeia produtiva do peixe, fez que com a produtividade aumentasse, favorecendo nossos consumidores com um volume maior do produto, mais frequência e mais qualidade”, destaca.