Notice: Function _load_textdomain_just_in_time was called incorrectly. Translation loading for the updraftplus domain was triggered too early. This is usually an indicator for some code in the plugin or theme running too early. Translations should be loaded at the init action or later. Please see Debugging in WordPress for more information. (This message was added in version 6.7.0.) in /code/wp-includes/functions.php on line 6114

Notice: Function _load_textdomain_just_in_time was called incorrectly. Translation loading for the wpforms-lite domain was triggered too early. This is usually an indicator for some code in the plugin or theme running too early. Translations should be loaded at the init action or later. Please see Debugging in WordPress for more information. (This message was added in version 6.7.0.) in /code/wp-includes/functions.php on line 6114
Diva, a extraordinária – a história de uma mãe do seringal acreano – Noticias do Acre
Notice: Undefined index: noticiasdoacre-content in /code/wp-content/themes/agenciaac-wp/inc/template-functions.php on line 79

Notice: Trying to get property 'src' of non-object in /code/wp-content/themes/agenciaac-wp/inc/template-functions.php on line 79

Notice: Undefined index: noticiasdoacre-content in /code/wp-content/themes/agenciaac-wp/inc/template-functions.php on line 79

Notice: Trying to get property 'ver' of non-object in /code/wp-content/themes/agenciaac-wp/inc/template-functions.php on line 79

Diva, a extraordinária – a história de uma mãe do seringal acreano

Dona Diva de Oliveira (Foto: arquivo de família)
Diva Pereira de Oliveira     (Foto: arquivo de família)

Ela seria a mais sonhada das enfermeiras para cuidar de alguém que a gente amasse muito. Assim eu pensava quando a via em constante movimento, trajando aqueles seus vestidos claros, com calçados confortáveis, propícios para quem precisa se doar e não pode se dar ao luxo de sentir as particulares dores o tempo todo.

Poderia ser também a vovó muito querida dos nossos filhos. Com seu sorriso afetuoso, seus cabelos brancos e curtos, óculos de aros arredondados, seu corpo ultrafofinho, com um colo muito próprio a acolher crianças, adolescentes e – por que não? – adultos.

Nas vezes em que estive em sua casa, não sabia o que fazer para me agradar: “Quer água? Café? Tapioca? Bolo, minha filha?” Ao longo dos anos, por intermédio de sua narrativa e de familiares, fui conhecendo sua história. Ah, que história! Grande protagonista a dona Diva.

Coisa de 40 anos antes, morava no seringal. E como não narro apenas para iniciados na história e geografia do Acre, “seringal” é a área de floresta onde uma população rarefeita extrai o látex das seringueiras.

Nessas ermas paragens, uma colocação – espécie de chácara onde vive o seringueiro e sua família – fica a horas de outra morada.

Ali ela habitava desde os 14 anos com o pai de seus dois filhos. E ali resistia em seu inferno, pois a fera a espancava todos os dias. Por nada. Por qualquer coisa. Porque era louco – não é difícil supor.

E o ódio do homem, Deus saberá sua infeliz origem, não parava de crescer. Carga que ele projetava sobre a esposa, batendo. Com a força nada desprezível de macho acreano, que carrega a genética dos que aprenderam a difícil e extenuante capacidade de sobreviver na selva. Batia nela com gosto, dando vazão à sua sanha.

Diva suportou, durante anos, inúmeras, sucessivas e intermináveis sessões de flagelo, sem ter a quem recorrer: nem família, nem vizinhos, nem polícia. Podia gritar à vontade. Quem ouviria seu clamor lá no fim do mundo? Apenas os filhos, que, congelados de terror, assistiam ao deplorável espetáculo diariamente.

Então, desesperada com o próprio sofrimento, teve uma iniciativa extraordinária para uma mulher submetida àquele grau de opressão: a de salvar sua vida. Iria fugir.

O que deve ter sido a decisão mais difícil e espinhosa que tomou. Porque partir com as duas crianças significaria atrasar a fuga e correr o risco de ser pega pelo monstro. Que, calcule-se, estaria mais furioso do que nunca e disposto, certamente, às últimas consequências. Fora o enfrentamento da vida na cidade, que ela mal conhecia.

Sim, teria que deixar os pequenos. E seu coração se partiu de tristeza.

Ciente da gravidade e das consequências do ato que pretendia, mas brava no propósito, pediu perdão a Deus, aos filhos amados, recomendou-se e foi embora. Sozinha, enfrentou a floresta. Horas e horas. Dias. Correu, caminhou. Até que chegou a Porto Acre, a nordeste do estado.

Trabalhou aqui e ali, no que pôde, para se manter. Depois arriscou a capital. E continuou sua luta diária. Então casou-se de novo. E teve outros filhos.

Mas nunca se esqueceu dos que abandonara. Mesmo porque a culpa afligia seu cotidiano.

Até que um dia foi contatada pelo primogênito. Doente, veio a Rio Branco e precisou submeter-se a uma cirurgia. Tendo sido capaz de localizá-la, ela o acolheu em casa e o amparou em sua recuperação. O que certamente fez com grande satisfação.

Então Diva narrou-lhe o padecimento extremo do passado, compartilhou com ele o pesar e pôde dizer: por favor, me perdoe. O filho aceitou.

Depois fez o mesmo com a caçula. Que não conseguiu desculpar a mãe tão cruel. Aquela mãe que tinha tido a coragem de deixá-la, tão pequena. Aquela mãe que tanta falta lhe fez, por quem tantas lágrimas derramou. Até que aprendeu a detestá-la para poder suportar a dor de sua perda.

Dona Diva lamentou. Mas compreendeu a mágoa da mulher.

Seguiu em frente, cercada de netos. Sua casa era reflexo do seu coração. A parte da frente cedeu a uma filha, restringindo-se a quatro cômodos, no fundo. Em cima morava o filho. E, no grande quintal, em uma edícula, a sogra doente, de quem ela cuidava.

Até que um dia chegou o perdão da filha. E a valente e bondosa Diva pôde viver ainda alguns anos, para ter a alegria de degustá-lo. Até que se foi embora tranquila, como mereceu.

Sei de tudo isso porque sou amiga de seu filho. Aquele que, ainda na barriga, pôde fugir com ela.


Notice: ob_end_flush(): failed to send buffer of zlib output compression (1) in /code/wp-includes/functions.php on line 5464