Mais do que uma apresentação sobre as políticas públicas do governo do Acre na área ambiental, o governador Tião Viana fez em Bogotá, capital da Colômbia, uma poderosa defesa da união de governos pela Floresta Amazônica.
Governadores, prefeitos, o ministro do meio ambiente da Colômbia, Luis Gilberto Murillo, e o gerente do Banco Mundial no país, Issam Abousleiman, foram um público atento aos projetos implantados pelo governo do Acre unificando o desenvolvimento econômico à preservação ambiental e aos avanços sociais.
Em entrevista exclusiva a Catherine Nieto Morantes, do jornal colombiano El Nuevo Siglo, o governador Tião Viana defende um projeto de sustentabilidade amplo para a Amazônia, na busca por parcerias e em defesa dos povos tradicionais.
1 – Qual a chave (segredo) do sucesso do modelo sustentável que tem no Brasil?
O Brasil vive ainda uma crise ambiental porque sua Amazônia não consegue estar devidamente conservada, mas há esforços setoriais. Eu posso dizer que há pessoas integradas ao governo Federal nos últimos anos já comprometidas com mudanças na defesa do desenvolvimento sustentável, sobretudo para a Amazônia e experiências locais muito vivas como a do Acre que é o estado que eu represento como governador.
Nós estamos com número concretos mostrando que reduzimos em 64% o desmatamento nos últimos 10 anos, e aumentamos a economia do estado, ou seja, conciliamos redução do desmatamento e qualidade de vida com melhoria econômica.
[aspas fala=”A Amazônia é um patrimônio universal da humanidade e nós temos o dever de conservá-la” autor=”Tião Viana”]
2 – “Saber sobre o Brasil é sentir orgulho de seus bosques e sua Amazônia”, como elogiou o ministro Luiz Gilberto Murillo, de Colômbia. Qual sua opinião?
O ministro do Meio Ambiente da Colômbia, Luiz Gilberto Murillo, foi muito feliz com a frase “Saber sobre o Brasil é sentir orgulho de seus bosques e sua Amazônia”. Nós temos que ter um conceito universal sobre nossas florestas.
A Amazônia é um patrimônio universal da humanidade e nós temos o dever de conservá-la. Essa região leva 20 bilhões de toneladas de água para o mar e gera, pelas folhas de suas árvores, brasileira 17 bilhões na forma de água doce. Isso é um patrimônio do mundo na regulação do clima. Temos que conservar e desenvolver.
3 – Como recebem o apoio da Noruega, Alemanha, Inglaterra com a parceria de execução que foi realizada há uma semana?
Nós acompanhamos essa agenda ambiental desde o protocolo de Quioto. O mundo, ou desperta para a tragédia ambiental que já está ocorrendo, que não há mais como fazê-la voltar, há apenas como mitigá-la, ou pagaremos um preço muito alto como humanidade, como civilizações.
Existe uma tragédia ambiental global, existe uma ameaça civilizatória. Nós, de um estado da Amazônia brasileira, escolhemos isso como conceito de vida. Estamos fazendo a nossa parte conservando e desenvolvendo. Esperamos que outros estados, outros países, o mundo consigam fazer.
4 – Governador, como evitar o desmatamento amazônico?
No Acre nós mostramos que é possível evitar o desmatamento. Nós melhoramos a economia, melhoramos a qualidade de vida, melhoramos os indicadores sociais e conservamos a natureza.
Princípios: Acreditar que é possível conservar a natureza e desenvolver, acreditar que é possível dar qualidade de vida para as pessoas.
Nós diversificamos a base econômica, realizando muitas atividades dentro das regras ambientais e gerando resposta financeiras, acreditando que com incorporação de tecnologia isso gera um resultado muito mais concreto.
[aspas fala=”Não é um plano único de recuperação ambiental. É unir economia, sustentabilidade e inteligência” autor=”Tião Viana”]
5 – Como reflorestar a natureza e qual a rentabilidade de reflorestar no Brasil?
Nós da Amazônia falamos em reflorestamento aproveitando áreas abertas, não falamos, no Acre, por exemplo, em reflorestamento somente para gerar riqueza em si. A floresta Amazônica é uma heterogênea, tem milhares de espécies e ela se recompõe sozinha.
O que nós fazemos é incorporar frutas tropicais, árvores que gerem melhor lucratividade em áreas degradadas. Não é um plano único de recuperação ambiental. É unir economia, sustentabilidade e inteligência.
6 – Como está o desmatamento ilegal e comercial? Existe no Brasil e como combater?
Ainda temos. O Brasil paga um preço do desmatamento, comete seus equívocos. A resposta que o país precisa dar chama-se comando e controle, ou seja, assegurar que não se aumente a expansão do desmatamento, sabendo que tem que reduzir.
O país está em uma luta por isso, e o Acre já consegue reduzir fortemente porque tem ação de comando e controle, mas, sobretudo acha respostas para aqueles que vivem nas áreas de florestas, assegurando melhor qualidade de vida e desenvolvimento econômico.
[aspas fala=”Eu já convidei aqui os governadores da Amazônia Colombiana para que possam fazer parte dessa força-tarefa, assumir pactos e discutir o que temos em troca quando conservamos a natureza” autor=”Tião Viana”]
7 – O senhor disse de um pacto com a Indonésia, de uma proposta que está sendo realizada. Do que se trata?
Nós temos uma força-tarefa de governos subnacionais, são 36 governos do mundo (da América do Sul, América Central, da América do Norte, da África, da Ásia e da Europa) que já se unem para defender as florestas, para não deixar o desmatamento aumentar, o GCF [Governadores para o Clima e Florestas, Governor’s Climate and Forests Task Force em inglês].
Eu já convidei aqui os governadores da Amazônia Colombiana para que possam fazer parte dessa força-tarefa, assumir pactos e discutir o que temos em troca quando conservamos a natureza, que modelos de cooperação, inteligentes, organismos internacionais, podem fazer para nos fortalecer na luta pela conservação e na defesa do desenvolvimento.
8 – O que se espera concluir desse encontro?
Eu fiquei muito feliz, porque o ministro Murillo gostou muito, os governadores e prefeitos estão expressando satisfação e nós queremos é que haja cooperação, troca de experiências.
A Colômbia tem experiências fantásticas que nós queremos aprender. Queremos criar um modelo de união, cooperação sul-americana em defesa da Floresta Amazônica de toda Amazônia Sul-Americana será melhor para todos nós.
O que um pode passar de melhor de suas experiências para os outros e com isso darmos uma resposta ao mundo: é possível viver no meio de uma tragédia ambiental e começar a mostrar caminhos quando os assuntos são as florestas tropicais, quando o assunto é a grande biodiversidade amazônica, quando o assunto é Amazônia Sul-Americana, um refrigerador do planeta.