Com uma missa na Catedral de Nossa Senhora da Glória, em Cruzeiro do Sul, no sábado, dia 3, a Ordem das Irmãs de Notre Dame (“Nossa Senhora”, em português) comemorou os 50 anos de atuação religiosa e social no estado. Elas vieram a convite do então bispo Dom Henrique Ruth (já falecido) e escreveram uma história que influenciou enormemente o desenvolvimento dos valores humanistas das regiões do Juruá e Tarauacá-Envira.
A atuação da Congregação de Notre Dame ajudou na criação da Maternidade de Cruzeiro do Sul e reforçou o quadro de profissionais de saúde do Hospital Regional do Juruá, onde trabalham como enfermeiras até hoje. Também é notável a contribuição que deram na formação educacional do povo de Cruzeiro. Sobretudo, tiveram participação na estruturação pedagógica de escolas como o Colégio São José, fundado pelos Irmãos Maristas, e no Instituto Santa Terezinha, criado pelas irmãs dominicanas.
O governador Gladson Cameli, que estudou no Santa Terezinha, reconhece a importância da atuação das religiosas. “As irmãs deram uma enorme contribuição para o povo do Juruá e de todo o Acre. Seja nos serviços hospitalares ou educacionais, essas mulheres enfrentaram grandes desafios numa região que, na época, era praticamente isolada do resto do Brasil. Mesmo assim cada um delas deu o melhor de si para ajudar em nossa formação social e cultural. Então temos muito a agradecer pela atuação da Congregação de Notre Dame no nosso estado, nesses 50 anos”, ressaltou.
Atuação social das religiosas
O bispo da Diocese de Cruzeiro do Sul, Dom Flavio Giovenale, que celebrou a missa comemorativa do jubileu da chegada das Irmãs de Notre Dame ao Acre, destacou o serviço realizado por elas à sociedade.
“Elas trabalharam especialmente na educação em Cruzeiro do Sul e Tarauacá e também na saúde. Inclusive, ainda continuam servindo no Hospital do Juruá. As irmãs ajudaram a organizar o Sindicato dos Professores e também atuaram na Pastoral Carcerária. Muito diversificados esses 50 anos de atuação das Irmãs de Notre Dame, mostrando a importância de amar a Cristo através do serviço concreto aos nossos irmãos e irmãs”, observou Dom Flávio.
Para o bispo, a religião ganha um sentido mais amplo quando atua diretamente na realidade humana para minimizar o sofrimento das pessoas. “Jesus atuou socialmente curando os doentes porque tinha o dom dos milagres. Assim como Deus nos dá o dom da ciência, que nos permite trabalhar na educação. Por muitos séculos não foram os estados políticos que organizaram as escolas, mas os religiosos. Assim continuamos o nosso trabalho, nos envolvendo em movimentos populares na busca de direitos para todos, como acontece nas pastorais carcerárias. E isso tudo faz parte da vida cristã porque Jesus pregou, mas depois curou os doentes e mandou cuidar das pessoas que sofrem. Então, como fiéis a Cristo, temos que continuar essa missão”, salientou Dom Flávio.
Uma história de entrega e dedicação ao próximo
As jovens irmãs, na época do início de suas atividades no Juruá, desembarcaram em Cruzeiro do Sul, em 1971 e se dividiram em missões para Tarauacá e Feijó. Posteriormente também atuaram nos municípios do Amazonas: Guajará, Ipixuna e Eirunepé. Tiveram que enfrentar o medo do desconhecido, como conta a irmã Clarinda Canci, uma das pioneiras da Congregação, no início da missão no Acre.
“Eu tive a graça de ser uma das irmãs escolhidas que veio fazer parte desta missão. Confesso que tive medo do convite de trabalhar no Acre, pois as distâncias eram enormes, um povo desconhecido, as comunicações muito difíceis e tínhamos poucos recursos. Além da dor de deixar para trás a minha família. No entanto, posso dizer que Deus sempre me sustentou para ter forças e coragem de enfrentar os desafios e seguir em frente com entusiasmo. Por isso, quero manifestar a minha gratidão ao povo do Acre, que sempre nos acolheu com muita alegria e afeto”, disse Clarinda.
Ao todo, 54 irmãs de Notre Dame atuaram no Acre ao longo desse tempo e atualmente nove delas ainda trabalham em Cruzeiro do Sul, Feijó e Rio Branco. A irmã Loiva Urban lamenta a redução dos quadros das religiosas.
“Estamos envelhecendo e o número de irmãs está se reduzindo. Isso tem limitado a nossa atuação. Mas temos a esperança de que cheguem outras jovens para a nossa congregação. Existem muitos trabalhos a serem feitos numa sociedade com tantos problemas, que precisa de gente para este mundo se tornar melhor e, sobretudo, nós nos tornarmos melhores”, refletiu Urban.
Um pouco de história
A Congregação de Notre Dame foi fundada em 1804, por Santa Julia Billiart, na França. Ela é considerada a mentora espiritual da missão que tem como objetivo catequizar, atuar na educação, na saúde e nas pastorais carcerárias. Fomentar a promoção humana por meio dos valores cristãos com trabalhos práticos nas comunidades é uma das suas premissas. A ordem das religiosas iniciou as suas atividades no Brasil, em 1923, e atualmente tem missões em 19 países nos cinco continentes.