Mais de cem poemas que gritam o horror e a indignação ao preconceito, à exclusão, à indiferença como uma forma de lidar com uma temática que faz parte de seu dia a dia. É o que o leitor vai encontrar no livro ‘Poesias de um surdo’, do escritor Alessandro Borges, que será lançado neste sábado, 13, às 19h30 no Sesc/Centro. O livro vem ao mundo com a intenção de servir de alerta sobre esse comportamento social que atinge milhares de pessoas que possuem algum tipo de deficiência, especialmente a auditiva.
Borges se deu conta de que estava perdendo a audição por volta dos 18 anos. Isto ocorreu por exposição a barulho excessivo no ambiente de trabalho. O ex-agente de portaria encontrou na literatura a oportunidade de externar seus sentimentos, de falar sobre a visão desse novo mundo e incentivar a comunidade surda e pessoas com deficiência auditiva a escreverem também. “A perda auditiva não surge da noite para o dia. É gradual. Quando se percebe já não conseguimos ouvir”, diz o poeta.
A mudança da rotina, a dificuldade de estabelecer diálogos, as novas formas de se relacionar com ouvintes ou surdos ainda estão em construção. Alessandro Borges não se reconheceu com a língua de sinais, não usa aparelhos auditivos. A leitura labial é uma das ferramentas usadas para “ouvir” o outro. Para ele, as políticas públicas criadas para ajudar a diminuir as barreiras e promover acesso a surdos não são definitivas. Borges ressalta a invisibilidade da pessoa com deficiência e a arte ajuda a enfrentar esses desafios no cotidiano.
Alessandro é autor de outros cinco livros: Jardim do poeta, Mundo de criança, Minha cidade em versos, A solidão chora saudade e Sou seringueiro e daí?. Este último também será lançado na noite de sábado no Sesc. “Vivemos em um lugar especial, cercado de árvores. Quero mostrar isso às pessoas, valorizar esta cultura”.
Sem som
O Brasil possui, segundo o IBGE, em torno de 10 milhões de deficientes auditivos. Desses, apenas 0,2% tem surdez congênita. A pesquisa indica que 0,9% dos brasileiros ficou surdo devido a doenças ou acidentes. Borges aproveita a divulgação do livro para fazer um alerta aos jovens sobre o uso excessivo de fones de ouvido. “Do jeito que é usado pode causar perda auditiva. É preciso ter cuidado”.