E se fosse possível unir poesia e fotografia em um só mundo? O visual e o lírico são duas formas de arte bastante distintas, mas na exibição “Poesias Femininas Interpretadas” esses universos convergem em uma experiência cultural diversa.
A ideia é convidativa aos amantes das artes. Idealizada pela fotógrafa Nattércia Damasceno, a mostra se estende de 16 a 23 de julho no hall da Usina de Arte João Donato, em Rio Branco.
Junto aos coloridos tecidos acrobáticos, as fotografias personificam poemas que falam sobre a luta da mulher na sociedade contemporânea. “Neste momento de pandemia, a gente viu que, mais do que nunca, a arte é necessária. O projeto é de arte e de luta, porque fala do cotidiano da mulher e sua relação com a sociedade; todas as poesias escolhidas falam sobre resistência”, revela a fotógrafa.
A diversidade das escritoras dentro do projeto foi o critério principal. Foram convidados nomes conhecidos na capital, como Nilda Dantas, Francis Mary (a “Bruxinha”), Rayssa Castelo Branco e poetisas do grupo Slam das Minas, um movimento de poesia autoral que envolve apenas mulheres.
O público que passear pela exibição pode adquirir as obras impressas das escritoras. A mostra também será disponibilizada de forma virtual por meio do Instagram e de um website a ser lançado no dia 16.
O espaço aberto, arborizado e a proximidade sentimental de Nattércia com a Usina de Arte, espaço administrado pela Fundação de Cultura Elias Mansour (FEM), tornaram a localização ideal para a exposição. A ideia do projeto veio de um workshop ministrado na própria Usina, em que foi explorado o conceito de poesias interpretadas. “Eu queria muito me dedicar a um projeto mais pessoal. Lembrei desse workshop e quis trabalhar a questão do feminismo, que é um assunto que conversa muito comigo”, relata.
Como elemento pertencente ao tema, a produção do ensaio também se ocupou da questão da autoestima feminina, envolvendo as cinco mulheres escolhidas para encarnar os poemas. O ensaio foi feito no quintal da casa de Nattércia, em um espaço aberto, apenas com a presença da fotógrafa e da assistente de produção. “Depois do ensaio a gente batia um papo, e às vezes a modelo nos falava que tinha chegado muito cabisbaixa e saía se sentindo linda. Isso foi incrível, a fotografia tem esse poder”, diz.
Nattércia também expõe que se viu em conflito interno muitas vezes antes de inscrever seu projeto nos editais da Lei Aldir Blanc, já que o período pandêmico resultou em perdas para milhares de pessoas. Porém, mudou de ideia ao refletir sobre o aumento de casos de violência contra a mulher durante a pandemia. De acordo com o site Agência Brasil, policiais militares no Acre foram acionados mais vezes para atender casos de violência doméstica durante o mês de março de 2020, quando a Organização Mundial de Saúde anunciou o estado de pandemia.
Ainda não há planos para uma segunda edição da mostra. Nattércia conta que ainda não conseguiu avaliar a exposição como um todo. “Como essa atividade fala sobre muitas bandeiras, acho que pode sim ganhar uma segunda edição. Mas também há muitos outros sonhos e projetos que percebi que sou capaz de realizar”, declara.