[vc_row full_width=”stretch_row” full_height=”yes” columns_placement=”bottom” parallax=”content-moving” parallax_image=”219423″ css=”.vc_custom_1544743471882{margin-top: -250px !important;}”][vc_column][vc_custom_heading text=”Florestas Plantadas cultiva tradição acreana na economia” font_container=”tag:h2|font_size:50|text_align:center|color:%23ffffff” google_fonts=”font_family:Alef%3Aregular%2C700|font_style:400%20regular%3A400%3Anormal” css=”.vc_custom_1544743394854{background-color: rgba(10,10,10,0.44) !important;*background-color: rgb(10,10,10) !important;}”][/vc_column][/vc_row][vc_row][vc_column][vc_column_text]
No Acre aprende-se uma relação de valores que só a Amazônia é capaz de oferecer. Desde os primeiros grupos indígenas, passando pelos migrantes nordestinos, os líderes Galvez, Plácido de Castro, Wilson Pinheiro até Chico Mendes, a terra acreana é símbolo de resistência.
Seguindo a tradição do extrativismo do látex e do desenvolvimento sem destruição das áreas nativas, o governo do Estado implementou o projeto Florestas Plantadas. O programa, que vai de Assis Brasil, na região do Alto Acre, a Manoel Urbano, região do Vale do Purus, organizará a cadeia produtiva da borracha por pelo menos 50 anos.
Descansando à sombra de embaúbas, após roçar uma área para o plantio do feijão, Antônio Mendes, conhecido por Duda, conversa com os amigos sobre os três hectares de seringueiras que crescem em sua propriedade.
Vale lembrar que, atualmente, a borracha está sendo vendida na forma líquida (látex) para a Natex, fábrica de preservativos de Xapuri, ao preço de R$ 7,80 o quilo, sendo que R$ 4,20 vem de subsídio do Estado. Entretanto, na Amazônia há sempre uma grandeza a mais envolvida.
“O programa, além de enriquecer a mim e minha família, vai enriquecer o ambiente. O tempo mudou, o homem não teve o cuidado de colocar de volta o que retirou. Entenda, eu preciso limpar pedaços da floresta e plantar coisas para eu comer; mas preciso, também, colocar algo de volta para compensar o que tirei. Se essa consciência chegar a todo mundo, vamos viver bem e com saúde”, afirma Duda, ao lado de sua floresta plantada no Projeto de Assentamento Extrativista Cachoeira, em Xapuri, prestando atenção em uma casa de cabas – espécie de vespa – logo acima.
A borracha revive
De 2009 até hoje foram plantados 3.200 hectares de seringueiras, beneficiando 1.500 famílias, e as atividades seguem até 2018. O princípio do programa está de acordo com cada palavra do seringueiro Duda. Além de recuperar as áreas já degradadas, o projeto gera renda com o látex e garante estabilidade financeira.
Estão sendo plantadas em consórcio frutíferas, como banana, acerola, manga, laranja, limão, abacaxi e açaí, que trarão retorno financeiro antes das primeiras seringueiras puderem ser cortadas.
O Florestas Plantadas é apoiado pelo REM (REDD for Early Movers, traduzido para REDD para pioneiros), por meio de parceria entre a Secretaria de Meio Ambiente (Sema) e Secretaria de Extensão Agroflorestal e Produção Familiar (Seaprof). Com o REM, a Seaprof realizou, de julho de 2013 a dezembro de 2014, a mecanização de 2800 hectares, além do plantio de 2000 hectares de açaí e 800 hectares de seringueira. Um investimento de R$ 2,6 milhões.
O tamanho da iniciativa pode ser analisada pelo professor Floriano Pastore, da Universidade de Brasília: “O importante é mostrar que não serão tiradas as florestas nativas para fazer florestas novas, temos que reflorestar com sabedoria, fazendo uma união de espécies naquelas áreas já degradadas. A seringueira é desta região, é da Amazônia, ela deve continuar sendo cultivada aqui”. Floriano coordena o estudo que, há quase 20 anos, apresentou a Folha de Defumação Líquida (FDL) como alternativa econômica.
O pesquisador adquiriu proximidade com o homem da floresta nesses anos e fala com sinceridade sobre o papel de cada um na proteção das matas e nos ganhos que isso pode gerar.
“Uma família que vive do extrativismo guarda 400 hectares de floresta, o equivalente a 25 quadras de Brasília. Por outro lado, se o trabalhador não tem do que viver, ele vira um predador e facilmente passa a matar animais e a queimar a mata”, relata o pesquisador.
Nas sombras de um seringal plantado no PAE Cachoeira, o professor conversa com Ademir Batista, coordenador do programa na Seaprof. Nascido em um antigo seringal próximo de Rio Branco, também produtor rural, ele diz que há melancias doces em sua colônia. Ademir vive há 35 anos envolvido com o resgate da cultura da borracha, desde os tempos em que percorria as propriedades como técnico rural.
“Com o desenvolvimento do programa, percebemos que era importante agregar renda para o extrativista durante o crescimento da seringueira. Incluímos aí mais alguns componentes como acerola, graviola, maracujá e principalmente o açaí, que era uma espécie que estava sendo praticamente dizimada. A frutífera dá renda”, explica. O conjunto de mudas entregue aos produtores tem cerca de 325 de seringueira, 40 de acerola, 40 de graviola e 80 de açaí. E em dois a três anos já apresenta retorno financeiro.
O gestor acredita que nos últimos 16 anos muita coisa mudou para os extrativistas. A começar pela retomada do extrativismo praticado desde a ocupação do território acreano. Foi criado também o programa de subvenção (custeio de parte do produto) pelo Estado, visando criar um valor a mais para a produção extrativista. Atualmente, o governo tem uma parceria com a Cooperacre (Cooperativa Central de Comercialização Extrativista) que faz a organização de cerca de 2.000 famílias da floresta e de seus produtos.
O governo vai investir R$ 64 milhões na produção rural do Acre em 2016. Recursos do Fundo Amazônia, Programa de Desenvolvimento Sustentável do Estado do Acre (PDSA), Programa de Inclusão Social e Desenvolvimento Econômico Sustentável do Acre (Proacre) e pelo banco alemão KfW
Os mercados para essa crescente atividade também são organizadas em paralelo. Em Xapuri, a fábrica Natex compra todo o látex da região. Um pouco mais a frente, em Assis Brasil, a FDL, produzida na Reserva Extrativista Chico Mendes, é vendida para a produção de sapatos da empresa francesa Vert – são nove anos de contratos renovados e outros mercados interessados no produto de alta qualidade.
A partir deste ano, a indústria em Sena Madureira, que vai produzir o Granulado Escuro Brasileiro (GEB), vai erguer ainda mais a autoestima mercantilista do estado. Ademir explica: “Em 16 anos, olha bem o que aconteceu. O seringueiro recebia R$ 0,40 de subsídio pelo quilo da borracha, mas não tinha para quem vender, tanto fazia produzir ou não. Com uma usina em Sena Madureira não vamos precisar vender o CVP para São Paulo, no preço que eles querem. Para lá vamos vender o GEB, que é o produto final, que já vai para as indústrias para fazer a luva, o pneu e os componentes de automóvel. Enquanto o quilo do CVP (Cernambi Virgem Prensado) é vendido por R$ 1,60; no GEB, o valor sobe para R$ 7,80”.
Vitória social na floresta
“Essas árvores plantadas assim, tu corta em uma manhã. Tu olha esse meu plantio aqui, com 610 árvores (em 1 hectare): vou poder cortar sozinho, mesmo na minha idade. Vou vir de madrugada, com a lanterninha na cabeça, risco e quando for 8h estou tranquilo em casa. A diferença está lá na produção, cada árvore pode me dar 250 gramas. Se for isso mesmo, sei que estou ganhando dinheiro”, relata Duda. Em seu seringal nativo, vai extrair 300 kg de borracha por ano, e no futuro, quando suas seringueiras plantadas estiverem em ponto de corte,poderá produzir, em um hectare, 2.000 kg de borracha seca por ano.
As respostas também são visíveis na ponta dessa estratégia. Lá na terra do extrativista há três hectares de seringueiras e outras frutíferas plantadas, talvez no fim deste ano (2016) já seja possível “sangrar” (extrair o látex) das novas árvores.
O banco alemão KfW já investiu mais de R$ 1,2 milhão no Florestas Plantadas, desde 2009
Nesse meio tempo, ele pode contar um pouco de sua história. Há 60 anos, sua família veio de um seringal mais distante, o Santa Fé, quase na Bolívia, para essa região mais próxima da zona urbana. Casado e com sete filhas, Duda esteve ao lado de seu primo Chico Mendes nas lutas contra a tomada de suas terras para o avanço da pecuária predatória. “Quem enriquece a terra, enriquece também o ar e todos vivem bem”, relembra o morador da floresta. A consciência ambiental e social é uma das conquistas das batalhas vencidas pelos trabalhadores rurais do Acre e que permeia cada etapa do desenvolvimento sustentável do estado.
“Quando iniciamos, eram 55 propriedades, hoje são mais de 88 em 24 mil hectares desse assentamento. Nós pensamos em enriquecer essa área, porque, imagina, minha filha casa e já tenho uma colocação para ela, aqui na minha área. Dá pra sobreviver aqui, porque não dá pra sair para outro canto”, afirma o produtor, querendo a família e os amigos por perto.
Mesmo vivendo distante da cidade, Duda acredita estar no melhor lugar para criar sua família. Com a renda que consegue da castanha e do látex, tem uma vida digna e atualmente mantém sua filha mais nova em uma universidade em Brasileia, a cerca de 110 km. Toda quarta-feira, a menina sai da colocação, pelo ramal até a rodovia (BR-317) e segue para a aula, retornando no mesmo dia.
“Toda madrugada, acordo e me benzo, dando graças a Deus por esse movimento que nós tivemos no Brasil”. Duda fala com propriedade, é personagem na luta para manter a floresta em pé. Foi preso, participou de empates, não só no Cachoeira, mas como parceiro em vários outras colocações para não ver os amigos perderem as terras.
Hoje, em sua casinha arrumada, com varanda e um pomar carregado, pode observar as gerações futuras passarem e ver que está fazendo sua parte. “Eu acho bonito quando vejo os alunos voltando da escola e invadindo o sítio, subindo nesses pés de árvores, comendo tangerina, laranja. Eu penso: Fiz algo que deu certo, que é alimentar esse pessoal que estuda”, diz Duda, que também alimenta a crença na prosperidade na floresta.
[/vc_column_text][/vc_column][vc_column][/vc_column][/vc_row]