Estar privado de liberdade é, para muitos, limitar-se a enxergar apenas o que está entre grades e muros. Não tem sido assim para os adolescentes A. F. S., 17 anos, e M. S., 18, ambos internos do Centro Socioeducativo Acre, em Rio Branco, que decidiram dedicar-se ao trabalho dentro da unidade para voltar ao convívio social com dignidade.
Os dois adolescentes são responsáveis – junto com um padeiro profissional de uma empresa contratada para o fornecimento da alimentação das unidades coordenadas pelo Instituto Socioeducativo (ISE) – pela fabricação de 700 unidades de pães servidas no café da manhã e ceia noturna das quatro unidades da capital.
A rotina começa cedo e o aprendizado é contínuo. Que não é fácil, todos sabem. “Mas é um preço que a gente tem que pagar, porque é o único meio de voltar a ter liberdade e fazer as coisas serem diferente um dia”, resume A. F. S., ágil e concentrado como um bom aprendiz.
Segundo contam, as más influências de companhias cedo os levaram a experimentar as facilidades aparentemente proporcionadas pela criminalidade. E, de repente, viram-se em conflito com a lei e obrigados a cumprirem medidas socioeducativas. O abandono dos estudos e a distância da família chegaram a trazer momentos de desesperança, que só foram vencidos com as chances de ressocialização oferecidas dentro da unidade.
Há dois anos recluso, A. F. S., dedicou-se a retomar os estudos e apresentar bom comportamento para ser inserido nos projetos interdisciplinares. “Estou correndo contra o tempo pra poder recuperar as horas que deixei de estudar e que infelizmente só me deram desgosto”, diz.
Há menos tempo cumprindo medidas, M. S. buscou fazer o mesmo. Com as experiências de quem morava na zona rural, ele foi responsável, inclusive, pela iniciativa de implantar dentro da unidade a atividade de horticultura junto com outros socioeducandos. “Esse tempo aqui dentro me fez perceber que não valeu a pena o sofrimento que causei pra minha família e estou tentando fazer algo diferente agora”, frisa o adolescente.
Oportunidade para todos
De acordo com o diretor do centro Nonato Pereira, qualquer boa iniciativa por parte deles vale para constar nos relatórios gerados periodicamente. “Temos uma seleção criteriosa de comportamento na hora de escolhermos quem vai participar das atividades, porque entendemos que, realmente, é necessário haver políticas que ressocializam, assim como boa vontade da parte deles de mudarem de vida quando saírem daqui”, pontua.
Além da panificação e horticultura, também há atividades na área de jardinagem e de música dentro da unidade, que no momento, tem cerca de 50 socioeducandos, sendo em torno de 40 envolvidos nelas. “Temos uma parceria em vista também com o Tribunal de Justiça, que deve trazer para a unidade também o curso de mecânica de motos, para ser mais uma opção de qualificação aos adolescentes”, acrescenta o diretor.
A panificação é realizada duas vezes ao dia e funcionará de modo rotativo, para que, quando passar o tempo de experiência dos adolescentes A. F. S. e M. S., outros socioeducandos possam ser capacitados ao trabalho também. Enquanto isso, todos os dias, a partir das três horas da madrugada, eles continuarão lá, literalmente com a mão na massa.