Com poesia falada, mulheres privadas de liberdade e egressas da Penitenciária Feminina de Rio Branco, integrantes do projeto Escrevivência da Liberdade (o termo “escrevivência” é uma junção das palavras “escrever”, “viver” e “se ver”), apresentaram nesta segunda-feira, 10, sua produção de rimas e de trechos da literatura de resistência, em atividade que integra o primeiro ciclo de um programa de leitura e escrita criativa.
A ação de ressocialização, que entregou certificados de participação às 20 participantes, visa à ampliação da perspectiva de vida desse público pelo acesso à literatura, com base em obras de autoras e autores negros, buscando estimular as reeducandas à conexão com seus sentimentos e à expressão artística. E, conforme preconiza o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), o envolvimento na atividade auxilia na remissão da pena.
Realizada com apoio do Fundo das Penas Pecuniárias da Comarca de Rio Branco e do edital Elas em Movimento, a iniciativa envolve várias instituições, como o Instituto de Administração Penitenciária (Iapen-AC), a Universidade Federal do Acre (Ufac), o Tribunal de Justiça (TJAC) e vários parceiros, como a Rede MulherAções, a Ouvidoria-Geral da Defensoria Pública do Acre (DPE) e o programa Fazendo Justiça, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
“O Escrevivência permite refletir e agregar conhecimento, além de outras formas de enxergar a vida dentro e fora do presídio”, observou o presidente do Iapen, Glauber Feitoza.
A coordenadora do projeto Escrevivência no Acre, Cláudia Marques, destacou: “Essa fase abrange os anos de 2022 e 2023, período em que foram lidas 23 obras, como ‘Carolinas: 180 novas escritoras negras brasileiras’, por exemplo”.
A obra faz referência à escritora mineira Carolina Maria de Jesus, que se tornou famosa no Brasil e no exterior, a partir do lançamento de seu livro Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada, retratando a realidade da população miserável nas periferias do país.
Entre as vozes que aparecem no livro “Carolinas: 180 novas escritoras negras brasileiras”, é interessante destacar a apresentação da escritora Fernanda Rodrigues, que resenha: “Carolina Maria de Jesus é um signo. Um caminho luminoso que se abriu na mata fechada. Uma clareira. Uma revolução”.
Maia Dourado, filha de uma egressa e acadêmica de Artes Cênicas da Ufac que ministrou uma das etapas da atividade, disse: “Estou emocionada e sou grata a esses projetos, pois minha mãe saiu da penitenciária e teve outra perspectiva. Com essa ação, é possível acreditar na ressocialização e trilhar outros caminhos na sociedade”.