O índio shanenawa Bruno Brandão, cujo nome indígena é Vakainô, completa 105 anos de idade neste dia 5. Em sua memória privilegiada, guarda muitas histórias e tem nítida a trajetória que seu povo percorreu desde que saiu do Alto Rio Gregório até chegar em Feijó, em 1960.
A jornada incluiu a varação da floresta, primeiramente habitando em várias localidades do Rio Tarauacá e em seguida na região do Alto Rio Envira, sempre sob a liderança do patriarca Inácio, falecido na década de 1980.
Por vários anos, Bruno e seu irmão Amaral se revezaram na chefia da aldeia Morada Nova, na margem esquerda do Rio Envira, quase em frente à cidade de Feijó. Durante muito tempo, o povo shanenawa, cujo nome significa “povo do pássaro azul”, foi confundido com o katuquina, tanto que a área que ocuparam acabou sendo demarcada como Terra Indígena (TI) Katuquina-Kaxinawá, também na década de 1980.
Depois de ter sofrido muita perseguição e injustiça, o povo shanenawa finalmente conseguiu levar uma vida mais tranquila. Embora tenha havido alguns conflitos com a população feijoense, na década de 1990, começou a ocorrer uma forte miscigenação e a paz se estabeleceu. “Hoje está tudo misturado”, conta Bruno.
O próprio cacique, Carlos Brandão, filho de Bruno, é casado com uma cariú (nome dado aos brancos). Ele conta que hoje a terra indígena, que tem 23 mil hectares, é composta por oito aldeias, onde habitam 720 índios: Paredão, Nova Vida, Morada Nova, Shanenawa , Shanekaiá, Cardoso, Aldeia 40 e Vitória, .
Apoio do governo
Nos últimos anos, o governo do Estado tem apoiado fortemente os shanenawas. O cacique Carlos constata: “É a primeira vez na história que vejo o governo olhar para as pessoas carentes, especialmente o índio. O governo nos deu oportunidade de fazer projetos e executar convênios que nos trouxeram alternativas econômicas”.
Ele destaca a construção de 14 açudes para criação de peixes e a construção de 96 casas pelo Programa Nacional de Habitação Rural. “O peixe estava escasseando, assim como a palha para cobrir casas”, disse.
Há oito anos o governo construiu uma grande escola na Aldeia Morada Nova, que veio dar um impulso à educação. Conta Carlos que na terra indígena há 316 estudantes. Os alunos do 1º ao 5º ano têm aulas na língua indígena. A maioria dos professores são shanenawas, alguns deles com nível superior em matemática, biologia e história.