O protagonismo dos povos indígenas do Acre resultou no processo mais rápido de regularização fundiária da história do indigenismo no Brasil. Em meados dos anos 70, as etnias se juntaram, iniciando o processo de reorganização e de luta por direitos. Atualmente, mais de 80% das Terras Indígenas do Estado já foram demarcadas.
Apoiados por antropólogos, indigenistas, sertanistas e instituições como Comissão Pró-Índio (CPI), Conselho Indigenista Missionário (CIMI), Confederação Nacional de Trabalhadores da Agricultura (Contag), Jornal Varadouro e a Igreja Católica, com Dom Moacyr Grechi à frente, os índios encabeçaram a luta pela retomada de seus territórios.
“Os índios que sobreviveram ao processo de escravidão e exploração sempre trabalharam muito para conseguir o que queriam. Quando descobriram seus direitos, se organizaram e fizeram pressão sobre a Fundação Nacional do Índio pela demarcação de suas terras”, explica o sertanista José Carlos Meirelles.
Meirelles relata que o primeiro passo dado pelas instituições foi a localização dos povos indígenas e processo de convencimento do governo em gestão, que afirmava não haver a predominância desses povos no Acre. “Quando a Funai chegou aqui, o governador Geraldo Mesquita afirmava que estávamos pintando cearense de urucum para dizer que eram índios”, relembra.
Natural do Amazonas, do povo indígena Apurinã, Francisco Avelino, 57 anos, veio para o Acre estudar, durante o regime militar, e se juntou as lideranças acreanas na luta por suas terras.
“Durante a repressão era muito complicado de se articular, e o apoio das instituições parceiras foi fundamental nesse processo de mobilização das lideranças indígenas do Acre e sul do Amazonas em prol da conquista dos nossos territórios. Hoje, mais de 80% das nossas terras estão demarcadas”, observa Francisco.
O estado possui 34 terras indígenas reconhecidas pelo governo federal e distribuídas entre 11 dos 22 municípios acreanos, que correspondem a 14,8% do território, composto por 15 etnias e outras três não contactadas.
Esses povos constituem uma população de pouco mais de 19,6 mil pessoas, representando 2,7% da população total do estado e 9,7% de sua população rural. Nos últimos anos, o governo do Estado investiu cerca de R$ 50 milhões em políticas públicas indígenas.
“O Acre é um exemplo para os outros estados do Brasil de como governar, respeitando as diversidades, reconhecimentos e valorização aos povos. Aqui nós temos voz, diálogo direto e continuar avançando”, frisa Francisco Apurinã.