A equipe de profissionais do Programa Melhor em Casa, desenvolvido pela Secretaria de Estado de Saúde, realizou nesta quinta-feira, 26, um treinamento com cuidadores de crianças que possuem traqueostomia. A qualificação representa mais um importante passo no cuidado de crianças atendidas pela iniciativa e que, por alguma condição grave de saúde, não podem sair de casa.
Durante o treinamento, realizado na clínica de fisioterapia da União Educacional do Norte (Uninorte), em Rio Branco, 10 cuidadores – em sua maioria mães e/ou pais – além de sete profissionais da Casa de Saúde Indígena no Acre (Casai), e acadêmicos de Fisioterapia da Uninorte, aprenderam sobre como agir em situações de emergência, como em casos de decanulação acidental (quando a criança retira a cânula com as mãos, por exemplo), além de cuidados gerais como aspiração, o que fazer durante uma intercorrência, entre outras questões.
Janaína Linard, gerente de assistência do programa, explica que o treinamento foi desenvolvido a partir das necessidades apresentadas pelos cuidadores.
“Resolvemos fazer essa capacitação com relação aos cuidados com a traqueostomia, porque vimos que era uma das dificuldades dos cuidadores, principalmente dos pais de crianças pequenas. Então, falamos sobre os cuidados que precisam ter com a traqueostomia, como aspirar corretamente para evitar formação de rolha, como agir no caso de uma decanulação acidental, e em casos de intercorrência, o que fazer para evitar, inclusive, novas internações desses pacientes”, pontuou Janaína.
Como parte do treinamento, a equipe do programa também disponibilizou um kit emergencial para ser usado em intercorrências, contendo uma cânula, uma pomada anestésica, água para injeção, sonda de aspiração e luva estéril. O material será distribuído a todas as famílias atendidas pelo programa.
Participantes exaltam iniciativa que salva vidas
O auxiliar de padaria Welington Brandão tem memórias ainda vivas de quando sua filha, Beatriz, de 4 anos, sofreu um acidente vascular cerebral (AVC) por dissecção arterial cervical, há dois anos e meio. O que a salvou foi o fato de o pai ter feito um treinamento para reanimação em caso de emergência.
“Onde nós morávamos, no interior de Feijó, não havia médicos para dar assistência na hora, e eu consegui chegar com ela na cidade após um dia de barco. Antes de eu chegar na cidade, ela desfaleceu quatro vezes no meu braço, e como eu já tinha feito aquele curso de bombeiro, consegui reanimar ela. Ela passou uma temporada em São Paulo e em Rio branco, mas ainda não foi descoberto o porquê de ela ter tido esse AVC, mas, desde então, ela ficou paraplégica”, relata o pai.
Hoje, depois de uma batalha contínua lutando pela vida da filha e para que ela tenha o melhor cuidado possível, pois ela vive em uma unidade de tratamento intensivo (UTI) em casa, Wellington exalta a iniciativa do Melhor em Casa, que o ajudará a se preparar, caso algum dia os conhecimentos adquiridos sejam necessários.
“Eu me sinto muito mais tranquilo [fazendo esse treinamento] porque vai ajudar muito mais ainda a nós que somos pais e nossos filhos que usam traqueostomia”, disse ele.
A dona de casa Marcela dos Santos Alves também vive na pele essa dificuldade, pois cuida de seu filho com traqueostomia e gastrostomia em casa. Ele possui três anos de vida e há quatro meses precisa de cuidados especiais, dos quais há um mês é cuidado na própria casa.
“Como aconteceu um caso de uma bebezinha que morreu porque a mãe não soube o que fazer em casa, é bem legal que eles [equipe do programa Melhor em Casa] tenham feito isso por nós, para que a gente aprenda mais para saber o que fazer em casa em um momento de desespero”, ponderou a mãe.
Rafaela Thomaz, enfermeira da Casai, também destacou a importância do treinamento, mesmo para profissionais da saúde que precisam estar em constante atualização.
“É interessante, porque nós da Casai já tivemos três pacientes nessa condição e por mais que a gente ache que sabe, sempre é interessante se atualizar. Hoje em dia não temos esses pacientes dentro da Casai, mas já tivemos, então é importante estarmos preparados. Por isso, é muito positiva a iniciativa desse treinamento”, destacou.
Atualmente, a equipe composta por 14 profissionais do programa Melhor em Casa atende cerca de 57 pessoas, das quais a maioria possui traqueostomia ou outra intervenção do gênero.