Por Claudia Vanessa Bergamini*
Mulheres são livros! Não sei se sou uma das poucas a pensar assim ou se há mais gente a corroborar minha ideia. A questão é que mulheres são livros. Há aquelas que são romances românticos, epopeia nos moldes burgueses a la fin de siècle XVIII. São sonhadoras, cabeça nas nuvens e fixam-se no sentimento. Outras são romances realistas, vivem a verossimilhança de forma intensa, são altivas no agir e claras no sentir. Algumas são romances históricos, trazem enredos outros para a narrativa da vida, os quais podem dar ou não brilho à história.
As mais instigantes são aquelas cuja comparação pode ser feita com os romances modernistas. São mulheres de formas variadas, pensar sortido e agir inovador. Ler uma modernista exige passar para além da forma dos gêneros literários. A epopeia nunca se faz a partir do amor; antes, porém, a fábula se constrói na aventura que é estar com alguém. O romance-mulher-modernista tem traços marcantes do gênero dramático trágico. A catarse ocorre como num passe de mágica, chocando o espectador e o convocando a refletir sobre o que provocou o trágico. Lírica ao extremo, a mulher-romance-modernista leva-se em prosa poética que salta da aspereza que a vida impõe à delicadeza que a poesia permite às relações humanas.
Toda mulher é um livro. Lê-lo requer habilidade do leitor, que não pode se enganar acreditando que as mais densas sejam aquelas que, como livros longos, trazem muitas vivências. As mais densas, pois, são as mulheres que construíram sua narrativa de forma simples, sem enleios. A complexidade do livro, ou melhor, da mulher, faz-se no cotidiano banal.
Aos que desejam ler as mulheres, segue apenas uma sugestão, pense sempre nelas como seres de força eloquente, mas de lirismo que se quer desvendado.
*Claudia Vanessa Bergamini é escritora, doutora em Letras e professora de Teoria da Literatura e Literatura Comparada da Universidade Federal do Acre