No coração de Rio Branco, bem em frente à Praça da Revolução, está um dos mais imponentes e emblemáticos prédios do Acre. Há quase um século, o quartel do Comando-Geral da Polícia Militar faz história e é testemunha de inúmeras transformações da sociedade.
A construção do prédio, por si só, foi digna de uma verdadeira epopeia. Naquele distante Acre da década de 1920, tudo era bem mais difícil. Sem estradas, a região sofria com o isolamento terrestre. O único acesso se dava pelos rios amazônicos, de onde chegava todo tipo de mercadoria.
As obras para sediar as instalações da extinta Guarda Territorial começaram, oficialmente, em 15 de maio de 1928, durante a gestão do governador Hugo Carneiro, quando o Acre ainda era território federal. O bloco principal foi inaugurado em novembro de 1929. A conclusão das demais edificações laterais só ocorreu três anos depois, em 1932.
Os tijolos maciços foram feitos manualmente na cerâmica pública bem próxima dali, onde hoje está localizado o bairro que leva o mesmo nome. Assim como todas as peças de madeira utilizadas para dar sustentação ao piso superior. Muitas delas foram cortadas e moldadas a machado, confirmando o uso de técnicas rústicas, devido a falta de equipamentos apropriados.
Sem mão de obra especializada, foram os próprios soldados, cabos e sargentos da Guarda Territorial que desempenharam, na época, as funções de pedreiro e marceneiro para erguer o complexo formado por três prédios independentes, totalizando 2,1 mil metros quadrados.
Diferente das construções atuais, o Comando-Geral não possui vergalhões de aço para dar suporte aos pilares e vigas do quartel. Em compensação, a estrutura é reforçada a tal ponto que resiste ao tempo há 92 anos, tamanha rigidez e qualidade da técnica empregada.
Revitalização histórica
Pela primeira vez na história, o local passa por uma grande revitalização. Iniciada em maio de 2021 e prestes a ser concluída, a obra recebeu R$ 4,9 milhões em investimentos, provenientes de recursos próprios do Estado. O zelo e cuidado com o patrimônio público acreano tem sido uma marca da gestão do governador Gladson Cameli.
O prédio foi contemplado com troca da cobertura, redes elétrica e hidrossanitária, piso, pintura, recuperação asfáltica do acesso interno e externo, plataforma elevatória para pessoas com deficiência, e ampliação da quantidade de vagas de estacionamento para veículos. Além disso, todos os ambientes serão climatizados.
Por estar em processo de tombamento no Departamento de Patrimônio Histórico e Cultural do Acre, o quartel já é considerado um prédio histórico. Para que a revitalização seja a mais fidedigna possível à arquitetura original, técnicos da Fundação Elias Mansour (FEM) e Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) inspecionaram cada etapa da obra.
No bloco principal ficarão as salas do comandante-geral, do subcomandante e principais diretorias da instituição. Já os demais blocos laterais serão ocupados pela Banda de Música Furiosa e Diretoria de Recursos Humanos da Polícia Militar.
Cerca de 130 servidores militares e civis devem trabalhar no local. Com as melhorias, estes profissionais terão um ambiente salubre e com mais condições para desempenharem suas atividades.
“Esta revitalização era muito aguardada por todos que trabalham no quartel do Comando Geral. Nosso prédio estava em condições precárias, com muito mofo e umidade. Em uma sala específica, por conta dessas condições, o ar-condicionado não conseguia funcionar. Agora, teremos uma estrutura totalmente reformada e digna para trabalharmos em prol da sociedade acreana”, destacou o diretor de Planejamento da PM, coronel Roberto Marques.
Uma novidade será a criação da Sala Histórica. No espaço de memória ficarão expostos itens utilizados no passado pela Polícia Militar, assim como objetos encontrados durante a revitalização do quartel, como é o caso de uma lata de marmelada, que estava escondida no forro do prédio. Para a época, este tipo de doce era considerado artigo de luxo pelo seu alto valor.
Peças originais estão sendo restauradas, como é o caso do piso remanescente em três salas, das portas e maçanetas da sala do comandante-geral, placas, suportes para bandeira e lustres coloniais.
A reforma contribuiu com a movimentação da economia. Em seu auge, a obra contou com a força de trabalho de 70 operários da construção civil, como é o caso do pedreiro Francisco Aldemir, que presta seus serviços no local desde o começo da revitalização.
“Essa não foi uma obra fácil, principalmente a retirada das peças de madeira, que eram muito pesadas e grandes. Mas eu me divirto trabalhando e fico feliz por estar dando a minha contribuição na reforma desse prédio tão importante do nosso estado”, comentou.