Por Roseneide Sena*
Já está mais que comprovado que o Acre existe!
O que muitos ainda desconhecem é que o Acre possui enorme almoxarifado de serviços ecossistêmicos, ou melhor, um grande almoxarifado de soluções e negócios baseados na natureza.
O extrativismo florestal não madeireiro, a hortifruticultura, os SAFs – Sistemas Agroflorestais – e os LPFs – Sistemas de lavoura, pecuária e floresta – foram as estratégias desenvolvidas pelos planos de gestão do Programa de Desenvolvimento Sustentável do Acre – PDSA Fase II, desde a sua concepção, lá em 2013.
Muito se investiu para garantir mais negócios a partir dos produtos que são compatíveis com nossas florestas. Do açaí à acerola, ao abacaxi, ao maracujá, à graviola, à banana, à mandioca até as oleagionosas, como a castanha, o buriti e o cocão.
Executamos 20 planos de gestão para a fruticultura, envolvendo as culturas de maracaujá, graviola, acerola e açaí. São mais de 7.900 pequenos agricultores atendidos pelo PDSA II com a oferta de assistência técnica e extensão rural. Em 2020, o Acre produziu 361 toneladas desses artigos, sendo a grande maioria oriunda dos planos de gestão do programa.
Eles fazem parte de uma lista de 64 artigos já exportados pelos estados da Amazônia Legal, com total compatibilidade com as florestas. E que, de acordo com estudo do Imazon, esses artigos movimentam um mercado global bilionário, em torno de US$ 176 bilhões de dólares.
A Amazônia Legal fornece apenas US$ 298 milhões de dólares por ano, o que chega a apenas 0,17% do mercado mundial para esses produtos.
O Acre já participa dessa fatia exportando a castanha. Em 2020, o volume exportado foi de 11% de todos os produtos exportados pelo Acre.
Mas, se você ficou impressionado, saiba que temos potencial para muito mais!
O mercado global interessado em suco (sumo) de qualquer fruta ou produto hortícola é de US$ 2,5 bilhões de dólares; para frutas congeladas, não cozidas ou cozidas em água (nossa banana comprida), há mercado de US$ 2,8 bilhões de dólares, o abacaxi, para suco não fermentado, um mercado de US$ 360 milhões de dólares.
Sabe quem está aproveitando esse mercado todo?? A Bolívia, o Peru, até o Vietnã.
E se você acha que isso é desmotivador, se enganou. Como bem gosto de parafrasear, “enquanto uns choram, outros vendem lenços” .
Nossa região possui vantagens competitivas bem evidentes pelas florestas, os rios, e o clima favorável ao cultivo desses produtos.
Estamos aptos a essa nova economia de baixo carbono, que busca se aproximar das demandas de consumo de uma sociedade, cada vez mais exigente em relação aos cuidados com o meio ambiente, garantindo prosperidade econômica e transformação social às comunidades tradicionais.
O PDSA Fase II se encerra em novembro de 2021, deixando um grande legado e muitas lições aprendidas, com a certeza que existe um mundo de oportunidades para a produção compatível com nossas florestas, sem aumentar o desmatamento.
Roseneide Sena é administradora, mestre em Administração e chefe do Departamento de Gerenciamento do Programa BID da Secretaria de Planejamento e Gestão do Acre (Seplag)