Em mais um alerta da Polícia Civil do Estado do Acre sobre crimes cibernéticos, uma prática criminosa que vem avolumando procedimentos nas delegacias e fazendo novas vítimas todos os dias é o golpe aplicado na OLX.
A plataforma OLX movimenta em média 500 mil anúncios por dia em todo o Brasil. São cidadãos querendo vender ou comprar alguma coisa. Dentre essa imensidão de pessoas, frequentemente aparece a figura do estelionatário.
Eis o funcionamento do golpe na OLX, passo a passo, adotando como exemplo a venda de um veículo:
1) A pessoa interessada em vender um veículo posta seu anúncio online em sites especializados de revenda, que pode ser Facebook, OLX ou outros;
2) O criminoso encontra o anúncio, apodera-se das fotos e posta um novo anúncio (só que no site da OLX). Nesse novo anúncio, agora no site da OLX, o veículo passa a ser ofertado pelo criminoso por um valor atrativo, um pouco abaixo do valor de mercado, e contendo o número de Whatsapp do criminoso, como se ele fosse dono do objeto do anúncio;
3) Uma pessoa interessada é atraída por esse anúncio no site da OLX e entra em contato pelo Whatsapp com o criminoso, requerendo mais informações sobre veículo. O criminoso presta todas as informações solicitadas pelo potencial comprador. Por fim, diz que está vendendo o objeto para um familiar ou amigo;
4) Até aqui, temos, portanto, três pessoas que estão envolvidas nesses fatos: o vendedor, o comprador e o golpista. Vale relembrar que vendedor e comprador são duas pessoas de boa-fé e ambos serão vítimas do golpe;
5) À medida em que a negociação com o golpista evolui, o comprador demonstra interesse em conhecer o veículo, solicitando ao golpista uma vistoria presencial, para que possa ser concretizada a compra caso o comprador goste do veículo. O golpista diz que irá agendar a visita do comprador com o seu cunhado (o vendedor). Informa também que, no momento da vistoria, caso decida ficar com o veículo, o comprador deverá fazer o depósito bancário nas contas bancárias fornecidas pelo golpista (atenção: são contas bancárias de terceiros, os “laranjas”), que não estão em nome do vendedor;
6) Para agendar a visita, o golpista estabelece um primeiro contato com o vendedor pelo Whatsapp (nunca presencialmente) e, munido de documentos furtados ou documentos falsos, apresenta-se como empresário ou como advogado, ou com outra profissão que passe credibilidade. Na versão mais frequente, o golpista se apresenta ao vendedor como empresário e diz ter interesse no carro; diz que precisa fazer um acerto trabalhista com um ex-funcionário seu e que esse ex-funcionário tem interesse em conhecer o carro pessoalmente e, caso goste, ele (golpista) comprará o carro do ex-funcionário como forma de pagamento do acerto trabalhista. O ex-funcionário é, na verdade, o comprador, que quer vistoriar o veículo;
7) Para não ocorrer nenhuma suspeita por parte do comprador de que se trata de um crime, o golpista solicita ao comprador que, no momento da vistoria, não comente nada com o vendedor sobre o valor que ele irá pagar pelo veículo e que também não diga nada sobre o fato de o golpista ser cunhado do vendedor. O comprador, muito interessado na compra (pois o veículo está muito barato), acaba acreditando no golpista.
8) De igual maneira, para não ocorrer nenhuma suspeita por parte do vendedor de que se trata de um crime, o golpista solicita ao vendedor que não trate de valores do veículo com o ex-funcionário dele que irá vistoriar o veículo; diz que o acordo trabalhista é um assunto dele (golpista) com seu ex-funcionário (comprador). Caso contrário, ele (golpista) não teria interesse na compra do veículo; diz ainda que, caso seu ex-funcionário goste do veículo no momento da vistoria, o vendedor poderia entregar as chaves ao seu ex-funcionário (comprador), pois ele (golpista) faria imediatamente um depósito do valor anunciado para a conta do vendedor;
9) Atenção, nesse momento do golpe, o comprador está indo vistoriar o veículo achando que a pessoa que está com o carro (vendedor) é cunhada da pessoa que está lhe vendendo (golpista). Por outro lado, o vendedor está achando que quem está indo vistoriar o seu carro é um ex-funcionário da pessoa que irá comprar o seu carro. Logo, nenhum dos dois – vendedor e comprador – sabem das versões que o golpista estabeleceu separadamente com cada um deles;
10) No momento do encontro e da vistoria do veículo, apenas comprador e vendedor estarão presentes (o golpista se comunica com ambos apenas pelo telefone e pelo Whatsapp e nunca é visto pessoalmente. E, nesse instante, nem o comprador e nem o vendedor entram em detalhes sobre a terceira pessoa (golpista), pois ele assim solicitou separadamente a cada um deles.
11) Caso o comprador decida ficar com o veículo, ele imediatamente avisa ao golpista pelo Whatsapp que fará a compra, fazendo a transferência ali mesmo (pelo telefone celular) para a conta bancária que o golpista tinha lhe fornecido;
12) O golpista imediatamente entra em contato com o vendedor e diz que seu ex-funcionário gostou do carro e pede para aguardar 30 minutos que ele (golpista) fará o pagamento/depósito para a conta vendedor;
13) Comprador e vendedor ficam aguardando os 30 minutos;
14) O golpista deposita um envelope vazio na conta do vendedor, e lhe envia o comprovante de depósito. Essas transações costumam ocorrer estrategicamente nas sextas-feiras e no fim de expediente do banco.
15) Nesse momento duas coisas podem ocorrer: ou o vendedor com muita boa-fé já entrega o veículo ao comprador e esse vai embora para casa (ficando o vendedor sem veículo e sem o pagamento); ou o vendedor aguarda para ver se o depósito foi compensado e, ao notar que o envelope foi vazio e que o dinheiro não “caiu” em sua conta, não entrega o veículo ao comprador (e este fica sem o seu dinheiro transferido e sem o veículo);
16) Nesse momento, o golpe “perfeito” foi aplicado. O golpista então bloqueia comprador e vendedor de seu Whatsapp e desaparece impune e sem nunca ter sido visto presencialmente.
O que as autoridades de segurança pública recomendam para quem compra pela internet?
1) Anote a URL (endereço da internet – OLX, Facebook, etc.) de onde foi postado o anúncio;
2) Nunca minta;
3) Desconfie de valores comercializados abaixo do mercado;
4) Desconfie de solicitações de urgência ou pressa;
5) Quando for mostrar ou ver o produto, converse com a pessoa sobre as tratativas, principalmente acerca dos valores;
6) Analise o produto pessoalmente e converse sobre a situação do produto (nota fiscal ou outro documento de propriedade, eventuais multas, etc.);
7) Se você é o comprador, certifique-se sobre os dados bancários repassados pelo suposto vendedor, pesquisando a agência informada (basta digitar no Google, por exemplo: “ag. 2271 Banco Bradesco”) e se o nome do titular da conta corresponde ao proprietário do produto (veja nota fiscal ou outro documento que comprove a propriedade);
8) Se a agência for de outro estado e/ou o nome do titular da conta não corresponder com o nome do legítimo proprietário, desconfie e não efetue a transação;
9) Se você é o vendedor, não transfira (não assine DUT ou qualquer outro documento) e não entregue o produto, antes de ver se o valor foi creditado na conta bancária (basta puxar o extrato);
10) Não acredite apenas em comprovantes enviados por WhatsApp, consulte seu extrato bancário (no aplicativo ou no caixa eletrônico);
11) Se o contato for por ligação, grave-as por meio de aplicativo.
O que fazer se for vítima?
1) Se você é o comprador, faça contato imediato com o seu banco para tentar bloquear o valor enviado (transferência, depósito, etc.) – alguns exigem o boletim de ocorrência;
2) Para ambos (vendedor e comprador), separe os áudios gravados (se contato foi por meio de ligação) e/ou tire print do diálogo mantido com o estelionatário;
3) Anote o dia, hora e local em que estava quanto conversou com o estelionatário;
4) Procure uma Delegacia de Polícia Civil e registre um Boletim de Ocorrência, apresentando os áudios, prints do diálogo, comprovante de pagamento (transferência, depósito, etc.), a URL (link), o nome do perfil, o número do telefone e demais dados que apareciam no anúncio.