A menos de quatro meses para encerrar sua gestão, o governador Tião Viana concedeu nesta semana entrevista à Rádio Integração, em Cruzeiro do Sul. Ao jornalista Chico Melo, Viana falou sobre os maiores desafios de sua gestão e celebrou ainda os avanços conquistados ao longo dos últimos anos em que esteve à frente do governo do Acre.
Temas como a crise político-econômica que o país enfrenta e suas consequências nortearam a discussão. Mesmo diante de um cenário de dificuldade do país, o Acre desponta na contramão da crise no que diz respeito à sua economia, além de avanços no setor da educação.
Entre os assuntos debatidos, o governador falou também sobre o sentimento do fim de sua gestão, que entra em um momento definitivo, faltando menos de quatro meses para completar seu ciclo. Apesar de ter enfrentado grandes desafios em quase oito anos de gestão, Tião Viana destacou que o sentimento, neste momento, é de dever cumprido.
Confira os principais momentos da entrevista:
Chico Melo – Governador, o país vive um momento difícil na economia, e o Acre crescendo na contramão desse processo. Como o senhor vê isso?
Tião Viana – Chico, estou muito contente de ver o avanço do Acre, e um grande exemplo é o sucesso da Expoacre Juruá, que se encerrou no último domingo [2]. E nesta semana, o Grupo Itaú, que tem uma linha de estudo do desenvolvimento tão forte quanto tem o Ipea, IBGE, apresentou o estudo econômico do desenvolvimento dos estados brasileiros referente ao ano de 2017, analisando o crescimento de vendas no varejo, o incremento da produção industrial, incremento de vendas no comércio, e analisou a geração de empregos formais dados pelo Caged [Cadastro Geral Empregados e Desempregados], que é um órgão do Ministério do Trabalho, e essa foi a minha alegria. O Acre teve indicadores acima de doze estados do Brasil. Ou seja, nosso crescimento proporcional – porque o Acre é um estado pequeno e pobre – foi fantástico. Ele [Acre] alcançou, no meio de uma crise, 2,7% em 2017, meta que muitos economistas não imaginavam ver, e o melhor, crescemos mais, proporcionalmente, do que Estados como São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná, Espírito Santo, Distrito Federal, Bahia, Paraíba, Sergipe, Alagoas, Rio Grande do Norte e Roraima. Então isso demonstra a força e a determinação do governo e da sociedade para darmos respostas à crise, por isso conseguimos ter a compreensão do que representam os investimentos em áreas como o saneamento básico – mais de R$ 1,30 bilhões –, 14 mil casas populares que estamos chegando até dezembro, investimento de R$ 160 milhões em obras na área da saúde, com a entrega do Hospital Regional do Alto Acre em Brasileia. Basta olhar os avanços que tivemos no Juruá, os investimentos em mais UTIs, enfermarias, os trabalhos dentro dos municípios como o hospital de Mâncio Lima, num investimento de R$ 3,5 milhões, a UPA de Cruzeiro do Sul, e na educação mais de mil obras entregues. Isso assegurou empregos. É claro que há dificuldades. Mas crescer 2,7% diante do crescimento negativo dos demais estados é um ato de bravura do governo e do povo acreano.
CM – Eu digo que o seu governo enfrentou as piores crises, inclusive a perda de uma aliada fundamental que era a presidente Dilma, além do aumento da violência no país, em que o Acre foi negligenciado pelo governo federal. Mas, diante desse cenário tão desafiador, quais foram os mecanismos utilizados pelo governo para manter o Acre em ritmo de crescimento com as contas em dia, principalmente com os salários sem atrasos?
TV – O estudo que fiz na minha vida pública – dada pelo povo do Acre, especialmente do Juruá, que sempre me estendeu a mão quando precisei – foi a compreensão que eu tinha na vida pública no Senado, ouvindo sempre as pessoas. Eu fui buscar canais de financiamento e, sabendo desses canais, busquei recursos no Banco Mundial, Banco Interamericano de Desenvolvimento, no governo alemão, BNDES e outros. Nós investimos mais de R$ 4,5 bilhões, isso demonstra uma capacidade de investimentos sem precedentes na história do Acre e o resultado disso é aquilo que vimos agora [estudo do Itaú Unibanco].
CM – Temos a tradição de ser um estado que usa bem os produtos florestais. O seu governo tem investido bastante nesse setor, e isso tem sido fundamental na economia acreana.
TV – Investimos mais de R$ 500 milhões na agricultura familiar. Em todo o setor produtivo rural, o investimento total foi de R$ 1 bilhão. Um exemplo é entre o Rio Liberdade e o Rio Gregório. Temos as reservas e nós conseguimos fazer um investimento para aquelas comunidades que não tinham a presença efetiva do Estado e receberam um investimento de R$ 42 milhões ali. Você se desloca para a comunidade da Reserva Chico Mendes, você vê um investimento superior a R$ 40 milhões nas comunidades indígenas, um investimento na agricultura para a qualidade de vida, você vê investimentos que chegam a superar R$ 50 milhões. Então estamos trabalhando com toda a firmeza. Você olha a quantidade de kits entregues em todo o Estado, por exemplo, em Brasileia, que recebeu R$ 5,5 milhões em equipamentos. Entregamos kits com roçadeira, caixas d’águas (produzidas no Acre, e é bom que se diga), mudas frutíferas e árvores (foram R$ 5 milhões). Então isso demonstra uma força única.
CM – O senhor tem feito um grande esforço no que diz respeito à segurança, para conter o problema do tráfico de drogas. Como o governo tem lidado com a questão da violência aqui?
TV – Eu agradeço a todos os policiais civis, militares e demais agentes de segurança pelo trabalho desenvolvido até aqui. Somos o segundo Estado que mais investe em segurança pública no país inteiro, com mais de meio bilhão de reais somente em 2017. Quando assumi, o investimento era da ordem de R$ 165 milhões ao ano para os profissionais da segurança, e este ano estamos fechando em R$ 507 milhões. Em agosto, reduzimos em 38% os assassinatos no Acre e em mais de 40% os assassinatos em Rio Branco, demonstrando a força do governo e das forças de segurança na luta contra o crime. E aí tem a omissão completa do governo federal, salvo o esforço dos agentes de Polícia Federal, dos militares do Exército Brasileiro, que tem poucos homens, e ficamos vulneráveis. Basta olhar os nossos rios, cuja falta de vigilância na fronteira deixa essas áreas suscetíveis à passagem de drogas. Temos que lutar todos os dias naquilo que deveria ser obrigação do governo federal e contamos com o apoio das polícias no Acre, e mesmo diante desse cenário, temos conseguido alcançar resultados positivos em todo o Estado. Em breve vamos entregar as obras do presídio Manoel Néri, com mais 400 vagas e outras três mil em Rio Branco, mostrando a nossa luta, pois aqui é o Estado que mais prende no Brasil e temos a melhor elucidação de crimes. Precisamos do governo federal não apenas no Acre, mas na Amazônia, onde é necessária a presença das forças de defesa da União nas fronteiras, porque estamos ao lado de dois dos maiores produtores de drogas do mundo, que são Bolívia e o Peru, além da Colômbia.
CM – O senhor está encerrando o seu governo com o sentimento do dever cumprido?
TV – Muito! No Acre inteiro, visitei mais de mil vezes os municípios. Somente em Cruzeiro do Sul passei mais de 200 vezes até agora e virei tantas outras ainda. Tenho amigos em todos os lugares e vou sair em paz, com sentimento de dever cumprido. Ajudei o Acre a mudar muito nesse período, e a partir do dia 1 de janeiro eu me desloco não mais como governador, mas como cidadão e amigo do povo acreano, para a Universidade Federal do Acre, onde sou professor do curso de medicina. Vou lecionar para os alunos, formar mestres e doutores. Também atuarei no Hospital das Clínicas cuidando da vida humana e muito feliz, porque Deus tem sido bondoso de me dar a oportunidade de fazer pelo meu Estado, atendendo aos ideais das comunidades para o desenvolvimento do Acre, sempre dando o melhor de mim. Se você me perguntar se falta muito para o Acre, respondo que sim, falta uma longa caminhada. É um estado pequeno e pobre, com apenas 116 anos, e quando você compara com outros estados como Pará e Amazonas, por exemplo, vê que já avançamos muito. Um exemplo disso são os dados recentes divulgados pelo Ministério da Educação, que apontam o Acre como o primeiro na Região Norte em avanços na educação, como mostra a última pesquisa do Ideb [Índice de Desenvolvimento da Educação Básica], e vamos avançar muito mais, como por exemplo as escolas militares – já entregamos duas – e também as escolas em tempo integral.