Dos vários investimentos que são necessários para ampliar e melhorar a qualidade dos serviços em saúde, existe um que, muitas vezes, passa despercebido por grande parte da população, mas que é estratégico na oferta de uma saúde mais ágil e eficaz. Trata-se da capacitação daqueles que estão em constante contanto com a população.
A Secretaria Estadual de Saúde (Sesacre) tem intensificado a parceria com as prefeituras de todo o estado, já que o poder público municipal é responsável pela atenção básica, aquele atendimento realizado pelos postos e centros de saúde, chamados de porta de entrada do SUS.
Um bom exemplo da parceria entre Estado e municípios vem de Santa Rosa do Purus. Conhecido por ser um dos quatros municípios de difícil acesso do Acre, Santa Rosa tem pouco mais de 6,3 mil habitantes. Uma das particularidades é que mais da metade da população é indígena.
Na última semana, técnicas das divisões de Saúde do Homem e Alimentação e Nutrição estiveram no município trocando conhecimentos e falando de ações que fazem a diferença na saúde preventiva.
Saúde do Homem
Joice Soares é gerente da Divisão de Saúde do Homem e foi pessoalmente a Santa Rosa do Purus.
Em pauta na conversa com médicos, enfermeiros, técnicos em enfermagem, agentes comunitários de saúde (ACS) e outros servidores, um dos grandes desafios da saúde pública. Fazer com que o público masculino tenha mais atenção com a saúde preventiva. Histórica e culturalmente, os homens só procuram atendimento em saúde quando estão doentes. A falta de saúde preventiva é um dos motivos para que os homens vivam, em média, 7,3 anos menos que as mulheres.
Mas como mudar esse mau hábito de tanto tempo? A estratégia é apostar na informação que resulta em conscientização.
“O desafio é imenso e só vamos conseguir quebrar esses tabus entre os homens com um trabalho diário, contando com a ajuda dos profissionais que fazem a atenção básica. Um dos mais importantes é o ACS, porque acaba criando uma relação mais próxima com a comunidade. Precisamos derrubar muitos mitos que se tornam barreiras para que o homem procure atendimento médico antes de adoecer”, afirma Joice Soares.
Dentre os eixos abordados na conversa com os profissionais estão o acesso e o acolhimento dos homens nas unidades básicas de saúde, saúde sexual e reprodutiva, paternidade e cuidado, doenças prevalentes entre a população masculina e prevenção de violência e acidentes. Dois materiais que auxiliam e que são distribuídos aos profissionais são o Guia de Saúde do Homem e o Guia do Pré-Natal do parceiro.
Quem trabalha diariamente na saúde sabe bem como é difícil mudar a consciência dos homens.
Que diga a fisioterapeuta Samara Duarte, há 8 meses prestando seus serviços profissionais em Santa Rosa do Purus. “Aqui no município, como em todo lugar, temos esse desafio. Promover a saúde do homem é muito mais difícil. Por isso trabalhamos com palestras procuramos envolver, principalmente, os agentes comunitários de saúde”, explica.
Samara completa: “No meu caso específico da fisioterapia não é muito diferente, já que muitas vezes eles, homens, nos procuram quando já estão com um problema bem avançado que poderia ter sido resolvido bem antes”.
Alimentação e nutrição
Quem nunca ouviu a expressão que comer bem é garantia de boa saúde? O problema é que confundimos comer bem com comer muito. E as duas coisas são completamente diferentes.
Segundo o Ministério da Saúde, mais da metade da população brasileira está acima do peso e a quantidade de obesos chega quase a 19%.
O padrão alimentar do povo brasileiro tem mudado, e mesmo um município de difícil acesso, no interior do Acre, não é exceção.
Atenção para o depoimento do técnico em enfermagem Jorge Kaxinawa. Se você pensa que nas aldeias a alimentação é natural, baseada em frutas e verduras cultivadas pelos próprios indígenas, enganou-se. “É muito preocupante. A realidade entre nós, indígenas, não é mais a mesma. Hoje em dia, temos a entrada de muitos alimentos industrializados entre o nosso povo”, afirma.
Nos seringais, a situação é igual. Luiz Pereira de Souza também é técnico em enfermagem, só que na zona rural. Morador do Seringal Cruzeiro, ele trabalha visitando as famílias da localidade. “A gente tá vendo as pessoas se ligarem muito nos produtos industrializados. As novas gerações, mesmo lá no seringal, estão cada vez comendo menos comida saudável. A gente percebe que as pessoas estão adoecendo mais”, afirma.
É aí que entra a divisão de nutrição e alimentação da Sesacre, com o desafio de conscientizar as pessoas sobre a importância de buscar o tão importante equilíbrio na hora de fazer suas refeições.
É claro que os produtos industrializados não vão desaparecer da mesa. O objetivo é fazer com que se entenda a necessidade de se consumir mais produtos in natura ou minimamente processados.
Outra busca é tentar fazer com as pessoas aproveitem as condições e a produção local para melhorar a qualidade da alimentação da população.
Madeline Guimarães, nutricionista da Sesacre, explica a importância da mudança nos hábitos alimentares. “O Brasil vive uma transição nutricional. Diminuiu a desnutrição e as doenças infecciosas e aumentou a quantidade de obesos e as doenças crônicas. Tudo isso por conta dessa alimentação muito rápida e muito industrializados, processados. Nossa preocupação é fazer com que as pessoas pensem menos em dieta e mais em reeducação alimentar”.
Um dos pilares da capacitação é o Guia Alimentar para a População Brasileira. “O guia mostra o que você deve evitar e como se alimentar com mais qualidade. Ele é o norte para as pessoas que estão em busca de uma alimentação mais saudável. Uma coisa importante é buscar o equilíbrio na alimentação, aumentando a quantidade de frutas, verduras e legumes durante as refeições”, afirma Madeline.