Voltar a ouvir, como muitos imaginam, não é simplesmente ser capaz de escutar o canto dos pássaros, de apreciar uma música, de compreender o que os outros estão falando ou os ruídos a nossa volta. Para quem perdeu a audição ao longo da vida, voltar a ouvir, sobretudo, é a realização de um sonho.
Esse sonho é uma realidade no Acre para mais de sete mil deficientes auditivos, que voltaram a ouvir nos últimos quatro anos, graças a adaptação de aparelhos de amplificação sonora individual (AASI), entregues gratuitamente por meio do Programa Saúde Auditiva, desenvolvido pelo governo do Estado no Hospital das Clínicas (HC), em Rio Branco, desde janeiro de 2014.
Pessoas com deficiência auditiva encontram no Sistema Único de Saúde (SUS) uma série de tratamentos gratuitos e integrais que buscam melhorar a qualidade de vida dessa parcela da população. Uma delas é a prótese auditiva, com o uso do AASI, que permite o resgate da percepção dos sons da fala, além dos sons ambientais, promovendo a melhora da habilidade de comunicação do usuário.
“No Acre, com a implantação do programa, que já realizou mais de 45 mil exames e distribuiu 7.368 aparelhos auditivos, não existe mais demanda reprimida por esse tipo de serviço. O paciente chega e é atendido”, ressalta a gestora do Saúde Auditiva no Acre, Idelene Emília de Mello.
Foi assim com a aposentada Luzia Rodrigues, de 68 anos, protetizada com o dispositivo de amplificação sonora por meio do Programa Saúde Auditiva. O que há três anos seria impossível de acontecer (falar ao telefone) devido à perda progressiva da audição, já não é mais problema para a dona Luzia.
A aposentada conversou com a reportagem por telefone e relatou o significado que é voltar a fazer parte do mundo sonoro e se conectar com as pessoas novamente.
“Não conseguia compreender o que as pessoas falavam. Era difícil e na maioria das vezes faltava paciência das pessoas em ficar repetindo ou falando mais alto para que eu pudesse entender. O Saúde Auditiva foi fundamental para que eu voltasse a ter uma vida normal, já que não teria condições financeiras de comprar um aparelho auditivo”, ressalta.
Ao todo, existem três modelos de aparelhos auditivos disponíveis no Programa, de acordo com o grau de perda auditiva do paciente, chegando a custar mais de mil reais cada um, conforme tabela do SUS.
Não diferente da aposentada, Ladislau Lopes, de 66 anos, que também é aposentado, mas ganha um dinheiro extra com a venda de salgados, faz uso de aparelho auditivo há cerca de três anos. Ele conta que usava um dispositivo auditivo que havia sido doado por um parente, mas que a baixa qualidade trazia mais prejuízos do que melhorias a sua audição.
“O aparelho era bem velho e quase não funcionava direito. Escutava mais quando estava sem ele. Um dia estava vendendo salgado na rua e um médico que atende na Fundação Hospitalar viu o aparelho no meu ouvido e falou do Saúde Auditiva. Ele disse que lá na Fundação eu conseguiria um aparelho muito melhor. E ele estava correto. O médico só esqueceu de dizer que lá eu também teria atendimento de excelência e que faria uma nova família”.
Em quatro anos, o programa de saúde auditiva já realizou no Acre 25.349 testes da orelhinha, mais de 45,7 mil exames e distribuiu 7.368 aparelhos auditivos, totalizando mais de 84 mil atendimentos, isso até agosto desse ano. O programa também contabiliza mais de 5,5 mil consultas com otorrinolaringologistas.
Teste da orelhinha
Logo após o nascimento do bebê, deve ser realizada a Triagem Neonatal Auditiva (TAN), conhecida como Teste da Orelhinha. Toda criança deve ser submetida ao procedimento preferencialmente nos primeiros dias de vida (24h a 48h) ainda na maternidade e, no máximo, durante o primeiro mês de vida, exceto em casos quando a saúde do bebê não permita a realização dos exames.
O exame é importante para detectar se o recém-nascido tem problemas de audição. Após a sua realização, é possível iniciar o diagnóstico e o tratamento das alterações auditivas precocemente. As crianças que apresentam alterações nos testes são submetidas ao reteste em até 30 dias.