Um acidente aéreo, o tombamento de um ônibus, a explosão de uma ambulância, pessoas gritando, um verdadeiro caos. Este era o cenário do exercício prático – simulado de cena, da etapa final do curso Resposta a Incidente com Múltiplas Vítimas, realizado na manhã desta sexta-feira, 1° de julho, no estacionamento da Arena da Floresta. O terceiro dia de treinamento reuniu cerca de 200 profissionais de saúde e da segurança pública e privada do estado.
Com o objetivo de fortalecer a atuação do setor de saúde, de forma articulada com os demais atores estratégicos na resposta a eventos envolvendo múltiplas vítimas, o Acre foi o quarto estado da federação a receber a capacitação. Um evento promovido pela Força Nacional do SUS, em parceria com o governo do Estado, por meio da Secretaria de Saúde do Acre (Sesacre).
Entre os participantes estavam as polícias Civil (PC) e Rodoviária Federal (PRF), o Corpo de Bombeiros, o Serviço de Atendimento de Urgência e Emergência (Samu), o Departamento Estadual de Trânsito (Detran), as Forças Armadas e a Defesa Civil, além dos profissionais da saúde pública e privada das regionais Alto e Baixo Acre e Juruá.
“Solicitamos essa capacitação no ano passado e hoje, finalmente, está acontecendo. Temos equipes das três regionais. Fizemos o possível para trazê-los: hospedagem, transporte, tudo isso para capacitarmos cada vez mais nossos profissionais a fim de oferecer um atendimento melhor à nossa população. Ainda não havia ocorrido um evento dessa magnitude. Se não trabalharmos com união não teremos resposta”, declarou a secretária de saúde, Paula Mariano.
Capacitação e integração de equipes
De acordo com o diretor do Departamento de Atenção Hospitalar Domiciliar e de Urgência da Força Nacional do SUS, Brunno Carrijo, a capacitação atua na integração de todas as equipes envolvidas no processo de salvamento em incidentes com múltiplas vítimas.
“Na verdade, estamos tentando diminuir o tempo de resposta, qualificar o atendimento e salvar mais vítimas nessas ocasiões. O incidente com múltiplas vítimas acontece quando envolve mais de cinco pessoas e, automaticamente, são acionadas todas as agências como a PRF, Polícia Civil, Samu, Corpo de Bombeiros e isso é uma organização. Tivemos dois dias de teoria e agora estamos vivenciando na prática, com uma simulação realística” esclareceu o diretor.
Para o coordenador estadual do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência do (Samu) e um dos idealizadores do evento, Pedro Pascoal, uma capacitação nesse nível traria um desfecho diferente em incidentes como o do avião da Rico, no ano de 2002, onde apenas oito pessoas sobreviveram, por exemplo. “A ideia é capacitar nossa equipe para que esse cenário seja invertido e nós consigamos prover maior qualidade de assistência, com menor risco e dano à população”, inteirou.
Vinda diretamente do Hospital da Mulher e da Criança do Juruá, a enfermeira Eliana Farias afirmou que o conhecimento adquirido nos três dias de treinamento contribuiu para a percepção do quanto os profissionais da saúde necessitam de conhecimento e atualização em todas as áreas de atendimento.
“Estamos saindo daqui satisfeitos. Nossa expectativa é que consigamos implementar todo esse conhecimento no nosso dia a dia, para quando acontecer esses incidentes, com múltiplas vítimas no nosso estado, estejamos preparados, não só na capital, mas no interior. Em Cruzeiro do Sul tivemos um acidente de grande magnitude, um incêndio em uma embarcação com mais de 30 feridos e com o curso percebemos o quanto e como podemos salvar vidas”, avaliou.
Simulação de cena com múltiplas vítimas
Vítimas com fraturas expostas, desacordadas, necessitando de atendimentos complexos e até mesmo de resgate aéreo. Foi assim que os estudantes de Medicina da Universidade Federal do Acre (Ufac) representaram para que a simulação alcançasse o objetivo. “Estou aqui como vítima, para ajudar. Vai ser uma grande oportunidade de vivenciar a realidade que enfrentaremos depois de formados. Vendo os profissionais de saúde que estão aqui, como eles vão agir, e começar a se preparar desde já”, relatou a estudante Sabrina Medeiros.
A sargento Marcela Gonçalves, do Corpo de Bombeiros, atuou como porta-voz do incidente, informando o quantitativo de feridos e mortes. Foram 35 vítimas, cinco óbitos (quatro homens e uma mulher). Havia uma vítima desaparecida, mas foi encontrada com a ajuda de cães farejadores.